Distante dos extremos
O Brasil vai mal porque, entre outras coisas, o nosso nível educacional é sofrível e há tara desmedida do cidadão brasileiro por políticos personalistas.
As brigas e desavenças políticas, potencializadas com o advento da internet e das redes sociais e aplicativos de mensagens, manifestam-se com mais força porque as pessoas não têm o grau de leitura necessária para enfrentar um debate minimamente sofisticado ou porque têm dificuldades básicas com o idioma no qual foram instruídas.
Alguém posta uma coisa e um outro corre para refutar, dizendo o que não foi dito ou que ela suspeita ter sido dita nas entrelinhas sem se ater ao que o que está dito nas linhas. E o pior, vem com sangue nos olhos, chutando e agredindo, como se o perfil dos outros fosse um lupanar qualquer. E quem assim procede fala em democracia, tolerância, respeito, empatia, etc.
Lembro de um texto de Cláudio Moura Castro, A arte de ler o que não está escrito, no qual o autor discorre sobre a dificuldade que o brasileiro tem de ler e entender o que leu. E sem entender as linhas, corre para se aventurar nas entrelinhas. Escrevendo sobre as cartas enviadas à redação comentando sobre os textos que escreve, diz: “É preocupante ver a liberdade com que alguns leitores interpretam os textos. Muitos se rebelam com o que eu não disse (…). Outros comentam opiniões que não expressei e nem tenho (…). Há os que adivinham as entrelinhas, ignorando as linhas. Indignam-se com o que acham que eu quis dizer, e não com o que eu disse. Alguns decretam que o autor é horrendo neoliberal e decidem que ele pensa assim ou assado sobre o assunto, mesmo que o texto diga o contrário. Não generalizo sobre as epístolas recebidas – alguns de lógica modelar. Tampouco é errado ou condenável passar a ilações sobre o autor ou sobre as consequências do que está dizendo. Mas nada disso pode passar por cima do que está escrito e da sua lógica. (…) Meus comentaristas escrevem corretamente, não pecam contra a ortografia, as crases comparecem assiduamente e a sintaxe não é imolada. Contudo, alguns não sabem ler. Sua imaginação criativa não se detém sobre a lógica aborrecida do texto. É a vitória da semiótica sobre a semântica.”
Em 2020, um professor fez um comentário para um grupo de alunos de turma que dividíamos porque um deles mostrou, depois de perguntado quem era o professor de História, o texto que eu havia distribuído e que serviria de base para o assunto, escravidão na antiguidade clássica, sobre o qual eu iria explanar. Disse o professor que a turma tivesse cuidado comigo porque eu era um neoliberal. Detalhe: o texto era de Aristóteles.
Vejo tanta gente carregando livro (não sei se são lidos efetivamente) que me sempre me vem à lembrança um dito de um ex-professor de adolescência, já falecido. Não foi exatamente assim, mas a ideia é a mesma: “Há gente que vive com livro debaixo do braço ou os tem como enfeites na estante. Os bichinhos fedem a sovaqueira ou a mofo, porque nunca são lidos ou consultados.”
Todos são bem-vindos às minhas redes sociais. Sou fleumático, mesmo sendo achincalhado. Já fui xingado e sacaneado nas redes sociais por meia dúzia de imbecis, quase todos diplomados e quase sempre democratas, tolerantes, civilizados, desde que as ideias que defendem, imperem.
Estou disposto a conversar e discutir, até duramente, com quem não é desrespeitoso. Serão bem-vindos, repito. Se quiserem ser bem tratados, tratem-me bem, caso contrário devolvo as pedradas que jogam no meu telhado.
Andava meio triste e angustiado por ser obrigado, conforme recomendação médica, a evitar confrontos. Fui parcialmente liberado e manterei a postura de encher o saco de muita gente. Na paz. Ou, por vezes, recorrendo às mesmas armas com as quais sou alvejado.