Seleção Brasileira, da história à memória
A Seleção Brasileira tornou-se apenas a partir de 2014, mas começou a registrar, com tintas fortes, seu nome na história na Copa do Mundo de 1938, quando saiu com um terceiro lugar e tendo Leônidas da Silva, o Diamante Negro, como um dos craques da competição e um dos nossos primeiros ídolos no esporte.
A Segunda Guerra Mundial, porém, impediu novos torneios por 12 anos (prejuízo grande, em títulos, para a Argentina, que viu uma geração espetacular não disputar uma Copa sequer) e o Brasil apareceu, em 1950, sediando o campeonato e disputando o título com o Uruguai, vencedor do jogo final, no Maracanã, por 2 a 1, maior tragédia brasileira nos gramados até 2014.
De 1950, quando perdemos para o campeão Uruguai, até 2014, quando fomos humilhados pela Alemanha, a Seleção Brasileira só foi eliminada, em Copas do Mundo por seleções grandes e tradicionais e/ou revolucionárias.
Quatro anos depois, em 1954, nos gramados suíços, fomos derrotados pela máquina húngara comandada por Ferenc Puskas, o Major Galopante, seleção que assustou o mundo e bateu inapelavelmente um a um os adversários até ser abatida, na finalíssima, pela Alemanha Ocidental, uma das bandas germânicas surgidas ao final da guerra.
Nos dois mundiais seguintes, 1958 e 1962, fomos campeões, revelando Pelé e com Garrincha desmontando Joões soviéticos, franceses, suecos, ingleses, etc, e caímos, em 1966, diante da seleção portuguesa comandada por Eusébio, o maior jogador português até o surgimento de Cristiano Ronaldo.
Em 1970, voltamos a levantar a taça com um dos times mais maravilhosos que formamos. O legendário selecionado de 70 fez dezenove gols em seis jogos, atropelando a seleção italiana na final, 4 a 1. O último, assinalado por Carlos Alberto, uma obra de arte assinada por vários pés.
As cinco Copas seguintes – 1974, 1978, 1982, 1986 e 1990 – foram de decepção e amargura, mas em todas fomos eliminados por quem era muito capaz, sem vergonha alguma. Em 1974, perdemos para o Carrossel Holandês de Curyff, Neeskens, Krol e companhia, time que mudou a forma de jogar futebol; nos gramados argentinos, em 1978, fomos eliminados pelos donos da casa, posteriormente campeões. Em 1982, numa das derrotas mais doídas do selecionado nacional, caímos diante da Itália de Paolo Rossi, Scirea, Dino Zoff, 3 a 2, no estádio Sarriá, em Barcelona. A Itália sagrou-se campeã, vencendo a Alemanha Ocidental por 3 a 1. Em 1986 foi a primeira de uma série de eliminações para a França; perdemos nos pênaltis para o ótimo time (muita gente torceu para que a final de 1982 fosse entre Brasil e França, então os dois selecionados que jogavam o futebol mais vistoso) comandado por Michel Platini. Em 1990, a Argentina de Maradona, depois vice-campeã, nos eliminou nas quartas-de-final, 1 a 0.
Romário, herói da classificação nas eliminatórias, conduziu o time até a final contra a Itália, derrotada nos pênaltis, na Copa dos Estados Unidos, em 1994. Quatro anos depois, em 1998, em gramados franceses, os anfitriões nos empurraram goela abaixo um indigesto 3 a 0, depois que Ronaldinho foi moído por uma convulsão na concentração, horas antes da partida.
Recuperamos a hegemonia na Copa de 2002, a primeira sediada por dois países, Japão e Coreia do Sul. Na final vencemos, sem sustos, a Alemanha por dois tentos e zero.
Chegamos à Alemanha em 2006 com um elenco vistoso e estrelado, mas sucumbimos diante de adversários invisíveis: a vaidade, a soberba, a molecagem… E depois, diante de uma França que trazia a base de 1998, com jogadores maduros e experientes e uma nova geração que despontava nos seus clubes. França 1 a 0, gol de Thierry Henry.
Ali começou um ponto de inflexão (falarei em outro texto), confirmado na Copa de 2010, jogada na África do Sul. Fomos eliminados pela ótima Holanda de Arjen Robben e Wesley Sneijder, 2 a 1, depois de estarmos vencendo o jogo por 1 a 0 e termos tido oportunidades reais de aumentar o placar.
Depois de 64 anos voltamos a sediar uma Copa do Mundo e fomos claudicando até a semifinal contra a Alemanha, então com campanha também claudicante. Com um time desmontado, pelas ausências de Thiago Silva e Neymar, substituídos por Dante e Bernard, a Seleção Brasileira protagonizou o maior vexame de sua história, perdendo por 7 a 1 para o time de Kross, Schweinsteiger e Neuer.
Depois do 7 a 1, o Brasil viveu e vive do que foi, não do que é, e as eliminações nas duas Copas seguintes, 2018 (Bélgica) e 2002 (Croácia), são um indício disso. São as primeiras eliminações para seleções medianas e sem tradição.
Voltar a ser o que fomos exigirá esforço e sacrifício, elementos que a atual geração não parece disposta a enfrentar.