Erro de comunicação de Brasília

por Sérgio Trindade foi publicado em 06.jan.25

 

O governo federal erra na comunicação, segundo 9 entre 10 estudiosos do assunto. Também pensa assim o presidente Lula: “Nesses dois anos de governo, já fiz muito mais entrega de políticas públicas à sociedade do que fiz nos oito anos anteriores. Eu sinto que, cada vez que eu viajo, converso, que atendo ministro que nós não estamos entregando de forma adequada para que a sociedade tenha as informações daquilo que nós fizemos”, comentou Lula, em participação remota no encerramento de seminário do Partido dos Trabalhadores (PT), ocorrido há um mês, em Brasília (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2024/12/06/lula-admite-erro-na-comunicacao-do-governo-e-diz-ser-obrigado-a-fazer-correcoes-necessarias.htm).

Para ele, seu governo e o PT não se organizaram como deveriam e, por isso, cometem erros em excesso na área. O presidente esquece, porém, as gafes que cometeu, afinal desde que foi empossado deu algumas declarações controversas que geraram debates, críticas e até reações contrárias de outros países, incluindo aliados.

O erro do governo não está, como pensa Lula, na divulgação dos seus feitos, mas na falta de entendimento do mundo digital.

É corrente que Lula é um orador de palanque eficiente, apesar dos percalços no idioma de Machado de Assis e das mudanças ocorridas no mundo na última década e meia.

Lula 1 e Lula 2 existiram numa época em que as mídias de massa eram comandadas/controladas por grandes empresas. Redes sociais engatinhavam, os aplicativos de mensagens viviam a sua pré-história, celulares eram quase que somente telefones. Não é mais assim.

As fraquezas de Lula (e as de todos os políticos) são expostas em tempo real. Portanto, não basta Lula, “o magistral comunicador”, como dizem os áulicos, falar mais (até porque já andou dizendo muito bobagem), se o governo não tem muito o que mostrar e se não entende como mostrar o que produziu.

O governo Lula não entende o que é estratégia de comunicação no mundo digital.  O caso se complica ainda mais quando o país está polarizado e radicalizado. Não esqueçamos, por sinal, que Lula prometeu, na campanha, superar a polarização e a radicalização – e por ora pouco fez para isso.

Voltemos à questão da comunicação. O governo esquece que para se comunicar bem é necessário entender o público a quem se dirige e produzir mensagens coerentes e ajustadas a cada público. Não adianta julgar o público com o qual quer se comunicar, mas entendê-lo e saber como dirigir-se a ele.

Lula e seu governo parecem não desejar falar com toda população (ou com a maior parte dela), mas apostar tudo em um único público, como se desejasse criar polêmicas para manter acesa a chama da polarização. Se assim for, aquela história de frente ampla nada mais é do que substância de pleito eleitoral. O nó da questão é que apostar tudo em um único público é risco enorme em uma sociedade radicalmente fraturada, porque aqueles que se sentem negligenciados ou marginalizados podem ficar ressentidos. E ressentidos, meus três ou quatro leitores sabem, podem decidir contendas eleitorais.

Ou alguém duvida?

posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar