Faltam empatia e educação

por Sérgio Trindade foi publicado em 05.mar.21

Para Aristóteles, o objetivo maior da vida era a busca pela felicidade. Atingi-la plenamente, dizia, exigia que afastássemos o medo da morte.

Epicuro, filósofo do período helenístico, tentou resolver tal dilema pontuando que a morte era o fim das sensações e, portanto, não poderia ser fisicamente dolorosa; se também é o fim da consciência, não poderia causar dor emocional. Logo, não há nada a temer, porque ela nada significa para nós, pois, quando existimos, ela não existe e, quando ela chega para nós, não mais existimos.

Se a morte é um elemento desconhecido para nós, por que passamos nossa existência nos preocupando com ela?

No século XIX, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, em sua A metafísica da morte, argumenta que o homem se funde com o mundo, e a essência primaz dessa unidade é nossa vontade e seu fenômeno nossa representação. Então, a consciência desse ser-uno elimina a diferença entre a persistência do mundo externo e mesmo a nossa própria persistência, depois que morremos. O medo da morte não adviria do apenas pelo fim da vida, mas em virtude da destruição do nosso organismo e isso ocorreria porque o homem dá mais atenção ao corpo do que à sua essência e, assim, a angústia de que um dia irá morrer o consome.

Todos um dia iremos morrer físicamente. Nada é mais preciso do que isso. No entanto, todos, exceto os psicopatas, talvez, abatemo-nos não apenas com a nossa morte, mas com a de familiares e amigos, principalmente quando elas ocorrem em grande quantidade e em curto espaço de tempo. Quando a Moça-Caetana carrega em profusão conhecidos e desconhecidos, é normal que a tristeza de poucos alcance muitos. 

Pôr-se no lugar de quem perde amigos e familiares é ótimo exercício para que saibamos o que é a dor da perda. 

Cobrimo-nos de luto, para parafrasear Sigmund Freud, em virtude da perda de uma pessoa querida. Também podemos fazê-lo quando perdemos alguma abstração (nação, povo, liberdade, etc) que ocupou o lugar de uma pessoa querida.

Num momento de perdas coletivas, espera-se do primeiro magistrado da nação que faça exercite o trânsito empático e, ainda que mantenha a certeza de que todos um dia todos morreremos e tenha a frieza e a racionalidade para tomar decisões difíceis, saiba entender a dor da nação a cada dia mais enlutada.

A estupidez não é certamente o caminho que constrói o caminho da civilização. 

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