Xeque!

por Sérgio Trindade foi publicado em 06.abr.23

Todos passamos, creio, o dia muito mal após a divulgação do ataque a uma creche em Blumenau, Santa Catarina e, uma vez mais, a política, da forma mais tacanha possível invade o debate, com direitistas e esquerdistas se acusando e propondo soluções simplistas ou mirabolantes para problema complexo.

Quando a violência urbana longe a apenas as vislumbramos no horizonte, todos esquecem que existe. Quando ela bate à nossa porta, a esquerda convencional aparece dizendo o mesmo, disco arranhado que é: a culpa é da desigualdade e do capitalismo. Insatisfeita em retirar a culpa do indivíduo que cometeu o crime, diz às vítimas e aos parentes e amigos: “sentem e esperem”.

A direita bronca culpa a monstruosidade humana e saca a solução simplista: se dermos poder de fogo às vítimas tudo se resolverá. Ou seja, a solução está numa pistola, num revólver… Em suma, um trabuco resolve tudo.

Enquanto ministro Sílvio Almeida se penitencia porque é parte de um governo que deveria resolver todos os problemas da sociedade, mas não o faz, Carol de Toni protocola PL “para que vigilantes, educadores e professores possam portar armas”. Imaginem o programa: Meu professor, minha pistola.

Os dois lados não sabem nem o início do caminho para resolver o problema. E, por isso, ficam como se mariposas fossem circulando-o.

Mas num caso drástico como o que ocorreu ontem, o que diz a direita bronca soa como música aos ouvidos de muita gente que está cansada de ser morta, furtada, roubada, estuprada e assistir ao Estado, responsável por prover segurança, inerte, leniente, omisso.

O assassino já tinha ficha corrida bem significativa e estava, por aí livre, leve e solto, o que torna uma coisa certa: se tivéssemos leis funcionais (que sejam cumpridas rigidamente, que obriguem presos a trabalhar e garantir o próprio sustento enquanto estiverem encarcerados, etc), a esmagadora maioria dos juízes comprometidos com a segurança dos cidadãos e penitenciárias decentes (que garantam a separação dos presos por grau de periculosidade) , gente como esse assassino estaria preso. Entretanto, discurso e postura que travam o recolhimento de muitos que não deveriam estar em convívio social.

Quando o resultado nefasto aparece, vem alguém com uma fala sacrificial ou com a faca nos dentes. Nada é efetivamente feito, até nova ocorrência. E o ciclo se repete.

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