Angico 1938 (1)

por Sérgio Trindade foi publicado em 11.jul.24

Um dos assuntos que mais me fascina na história do Brasil, mais precisamente do sertão nordestino, é o cangaço.

De Antônio Silvino, o primeiro cangaceiro profissional, a Lampião, o rei do cangaço, passando por Jesuíno Brilhante, o único potiguar de destaque nesta saga sertaneja, e Sinhô Pereira, o chefe do jovem Lampião, o cangaço é fenômeno crucial para entender as relações sociais, econômicas e políticas do hinterland nordestino.

No fenômeno cangaceiro há várias temáticas importantes, mas uma que tem me chamado a atenção nos últimos tempos é a da morte de Lampião, em 28 de julho de 1938. Primeiro, porque há trabalhos que registram que o famoso bandoleiro não morreu no ataque desfechado pelo tenente João Bezerra, pelo aspirante Francisco Ferreira e pelo sargento Aniceto Rodrigues. Segundo porque há os que dizem ter sido Lampião e seu bando envenenados. Até surgirem estudiosos que se dedicaram especificamente ao assunto, que trouxeram depoimentos, documentos, etc visando esclarecer definitivamente assunto polêmico e dado a lendas.

Venho me debruçando, como curioso e não como pesquisador, sobre os acontecimentos de 28 de julho de 1938, dia da morte do rei do cangaço e, para tal, fui à minha estante e baixei alguns dos livros lidos e outros por ler para entender mais sobre os eventos que antecederam o golpe que apressou a morte do cangaço, bem como a própria dinâmica do fato em si. Filmes e vídeos também têm saciado a minha curiosidade.

Não é propriamente uma pesquisa acadêmica, mas começo mencionando-os, afinal as informações deles coletadas darão o tom dos textos virão na sequência.

Começo com o trabalho do já capitão João Bezerra, Como dei cabo de Lampeão, livro lançado em 1940 e que teve sucessivas reedições. É trabalho de ninguém menos do que o comandante das tropas volantes que atacaram Lampião e seu bando na fazenda Angico, em Sergipe.

Outro trabalho importante é Assim morreu Lampião, do pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, um dos mais profícuos estudiosos do cangaço, com vários livros publicados, centenas de entrevistas feitas com antigos cangaceiros e membros de volantes, fazendeiros, etc, material que permitiu recuperar muito do contexto no qual o cangaço medrou. A primeira edição do trabalho é de 1982 e a última de 2013, com novas informações.

Juarez Conrado escreveu trabalho com título A última semana de Lampião, rico em registros fotográficos e com algumas curiosidades acerca, como o título indica, da semana final de vida do mais famoso bandoleiro nordestino, como escreveu Zé Ramalho em famosa canção.

Em Lampião, o rei dos cangaceiros, o brasilianista Billy Jaynes Chandler traça uma painel biográfico do pernambucano de Serra Talhada, sertão pernambucano, com um capítulo dedicado ao que ocorreu na fazenda Angico, às margens do rio São Francisco, sertão sergipano.

Um seridoense de Caicó, Israel Maria dos Santos Segundo, traz em O tiro que matou Lampião: as controvérsias sobre a morte do mais famoso bandoleiro nordestino, belíssimo trabalho de reconstituição histórica sobre os acontecimentos daquele distante julho de 1938, questões importantes para entender o ocorrido, a saber, as motivações para que o bando se reunisse num coito, Angico, que era alvo da desconfiança de diversos cangaceiros, qual foram efetivamente “as datas de chegada e saída dos cangaceiros” daquela localidade, quantos cangaceiros estavam no coito quando do ataque das tropas volantes, como se deu a reunião das tropas para efetuar o cerco aos bandoleiros, etc.

O apogeu do domínio: a tragédia de Angico, a coroa do rei, sexto volume da coleção Lampião, seu tempo e seu reinado, escrita pelo padre Frederico Bezerra Maciel, traz um capítulo sobre o acontecido em Angico. Como tem tese polêmica, ainda que fantasiosa, merece registro. Igualmente polêmica e fantasiosa é a tese exposta em Lampião, o invencível – duas vidas e duas mortes, de José Geraldo Aguiar. Para ele, Virgulino Ferreira da Silva não morreu em Sergipe, mas em Minas Gerais, na década de 1990.

Por último, cito Apagando Lampião: vida e morte do rei do cangaço, uma das tantas obras escritas por Frederico Pernambucano de Melo, um dos luminares do estudo do fenômeno cangaceiro e um dos mais sagazes e instigantes pesquisadores do tema.

São muitos trabalhos sobre o cangaço e sobre Lampião. Outras poderiam estar ao lado destas, embasando o que pretendo escrever. Como como não é uma pesquisa acadêmica e, sim, um texto de divulgação, restringi as minhas escolhas àquelas que apontam de maneira mais clara cada uma das teses. Um dia, quem sabe, com mais tempo e disposição, eu me aventure a aprofundar minha análise.

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