Lupanaria // 2 – II – A Escola chamada Nusa

por Sérgio Trindade foi publicado em 08.jan.25

Ignácio Luiz Domingos era um preguiçoso nascido na comunidade Lambão, em Moxotó, sertão profundo de Canguçu.

Trabalhou como engraxate na rodoviária da cidade, mas, esperto, percebeu que a vida poderia lhe trazer bons cobres na zona onde as mulheres faziam a vida. Em pouco tempo, Ignácio Luiz era o mais afamado cafetão da Moxotó. Além doo cobres amealhados explorando as putas do lugar, o barbudo baixinho e de língua presa, passou a emprestar dinheiro a juros. Não demorou e era o mais rico usurário do lugar. Políticos, comerciantes, fazendeiros, funcionários públicos deviam dinheiro a seu Ignácio, que gastava o tempo percorrendo a cidade, jogando sinuca e bilhar e se servindo, como podia, do estoque de que dispunha e cobrando a quem lhe devia.

Casado com dona Maria da Silva Domingos, teve um casal de filhos, João Estevão da Silva e Maria de Lourdes da Silva Domingos.

João Estevão, estudioso e curioso, foi estudar fora, na capital do país, e nunca mais voltou a Moxotó. Sabe-se que se tornou médico rico e famoso. Maria de Lourdes, também muito cedo foi estudar em Malassombro, levando vida desregrada, até ser descoberta pelo pai que a renegou. Sem os cobres paternos, Maria de Lourdes foi fazer a vida. Em Malassombro a macharia dizia: “Já soube de Maria Lourdes? Caiu na vida”. “Já ouviu falar do que aconteceu com Maria de Lourdes?”. “Maria de Lourdes é a puta mais cara Malassombro. Quiçá a puta mais cara de Canguçu”.

Alta e muito bonita, com 1,75 m, olhos e cabelos pretos e corpo perfeito, tornou-se, por um tempo, puta requestada. Ganhou apelido. Os clientes a chamavam de Nusa.

Montou o melhor cabaré de Malassombro, mas o tempo veio lhe cobrar a vida de excessos e Nusa engordou e enfeiou. Por sorte, a decadência foi compensada pela gorda herança recebida após a morte dos pais, num trágico acidente de automóvel na rodagem que ligava Moxotó a Areias do Mel, povoado litorâneo situado a 22 km de Moxotó.

Nusa vendeu o badalado cabaré e abriu uma escola, a maior e mais bem equipada de Malassombro e o estabelecimento educativo caiu nas graças da população da elite malassombrense, constituindo-se uma casa educacional socialmente referenciada.

Diziam pela cidade que não havia diferenças entre os empreendimentos de Nusa. “Cabaré e escola são filhos da mesma placenta”, pontuou Rolando Ganso Pitanga, professor e intelectual.

A antes grande, magra, linda e afável Nusa tornou-se uma mulher grande, gorda, feia, pedante, mal-humorada e insuportável, mas ainda muito bem relacionada em Canguçu, especialmente em Malassombro. Verbas poderiam jorrar nos cofres da Escola Amigos do Saber, desde que Nusa tivesse operadores para tungar os cofres públicos. E operadores não faltariam, mesmo porque os gêmeos Odorico Gomes Dias e João de Barros Cacatua estavam de volta a Canguçu e não ficaram em Eçaraiapólis. Os meninos eram chamados de cadetes, porque o pai era grumete. E foram manobrar barcos de estripulias em Malassombro.

A Escola Amigos do Saber, da ex-empresária do sexo, precisava dos serviços socialmente referenciados dos gêmeo Odorico Dias e de João Cacatua. E os dois cadetes não decepcionaram a ditetora Nusa.

posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar