Entre o silêncio e o grito

por Sérgio Trindade foi publicado em 16.maio.22

O risco sempre nos espreita, cerca-nos e chega mesmo a nos chamar.

Quase sempre ou só às vezes mantemo-nos calados e reclusos. Quando provocados, uma tempestade se forma e corre célere querendo varrer o que encontra pela frente.

Maiônides, filósofo do judaísmo digamos medieval, chegou a afirmar que o “risco de qualquer decisão é preferível à indecisão”. Manter-se calado e distante é opção por uma forma de risco. Ser provocado, com cinismo, falsidade ou desfaçatez, a sair do repouso é o que pode levantar tempestades, e as tempestades, ensinou Victor Hugo, são esperadas pelo mar silencioso.

Há os que não gostam de brigas e/ou enfrentamentos desnecessários e só saem do “repouso” se forem efetivamente provocados. Estes, quando vão para o enfrentamento, vão mesmo, sem receios, principalmente se o adversário for mais poderoso do que eles, despidos de qualquer forma de poder. São daqueles que dizem “Não mexam comigo” e “Deixem-me quieto”.

Em “repouso” são cordatos; o mesmo não ocorrendo se são chamados para a briga e saem do “repouso”. Dou um boi para não entrar em brigas e dou uma boiada para delas não sair, é assim que diz o ditado.

Já vi e ouvi funcionários públicos, à época do impeachment de Dilma (um erro político imenso, mas feito dentro das regras constitucionais), propondo que a instituição na qual trabalham perseguisse colegas que foram a favor do impeachment da presidente.

Lideranças políticas ligadas a Lula já chegaram a dizer que, se Lula vier a sentar na novamente cadeira presidencial, prenderia policiais, procuradores e juízes ligados à Lava Jato, que, segundo sua visão, perseguiram-no. Lula mesmo chegou a flertar com tais propostas. Depois de libertado, abrandou a ira. Lembrei de Voltaire: “Quem se vinga depois da vitória é indigno de vencer.”

O remanso depende sempre da quietude dos outros. Se alguém torna o mar encapelado, resolve fazer alguém e muitos de bobo, desandam a maldizer no privado enquanto posa de bom moço em público, o remanso se esvai.

O resultado é a tempestade.

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