Lady Gaga, Dudu Nervosinho e o Esgoto
Gilbert Keith Chesterton, aquele inglês de cachimbo e sacadas geniais, cravou uma verdade irrefutável: quando a fé evapora, o espírito humano se agarra a qualquer miragem, a qualquer ídolo de barro pegajoso e reluzente. No Rio de Janeiro, essa terra de contrastes violentos e paixões epidérmicas, a idolatria, por estes dias, veste-se de carne crua e fraldas geriátricas, um escárnio à razão e um vômito à imaginação.
Lady Gaga, a esfinge pop de enigmas fáceis e decotes generosos, por aqui chegou urdindo um espetáculo que extrapolou o palco. A pantomima grotesca, meus caros, instalou-se nas ruas onde a estupidez humana desfilou em sua nudez mais abjeta. Carne adornando corpos ávidos por atenção, fedendo à promiscuidade e à carência afetiva. E as fraldas, meu Deus, as fraldas!, reboladas na praia. Centenas de adultos, abdômen inchado de infantilidade e incontinência, transformando a areia outrora cantada em verso e prosa em latrina a céu aberto.
A praia, esse cartão-postal de beleza selvagem, maculada pela imundície de almas vazias, ansiosas por um instante efêmero de beatitude artificial.
E nesse esterco moral, nessa fossa a céu aberto, emerge a figura de Eduardo Paes, o Dudu Nervosinho, alçado ao poder com a voracidade de um urubu sobre a carcaça. Mais de 60% dos votos! Um espanto? Não, meus três ou quatro leitores. Apenas a confirmação de que o carioca trocou a educação pela fantasia barata, a saúde pelo oba-oba ensurdecedor, o transporte decente pela histeria coletiva.
Ordem pública? Para quê? Dudu Nervosinho oferece pão-e-circo, uma dose cavalar de entretenimento rasteiro que anestesia a consciência e embota o raciocínio. E ele, o prefeito sagaz e loquaz, conhece a alma faminta do povo, a sede insaciável por simulacros de felicidade.
Nunca fui um fã de rock, embora algumas bandas me acenassem com melodias interessantes. Mas fico a matutar, com a pulga atrás da orelha: se essa gente, essa legião de deserdados da razão, prostra-se com tamanha abjeção diante de Lady Gaga, o que fariam diante dos Beatles, do Queen, do Black Sabbath, do Nirvana? Sacrificariam virgens na Pedra da Gávea? Urinariam nos corredores e nas salas do Copacabana Palace em êxtase? Lançariam fraldas geriátricas forradas com cocô ao bondinho do Pão de Açúcar ou do alto do Corcovado? A histeria seria ainda mais ensurdecedora, a degradação ainda mais nauseabunda?
Ah, Rio de Janeiro, nosso Rio de Janeiro, eterno purgatório de belezas estonteantes e misérias abissais! A merda, meu caro, a merda está por toda parte, exalando seu odor fétido e inebriante. E nós, iludidos, chafurdamos nela, acreditando piamente que o brilho efêmero de um palco chinfrim pode nos redimir da nossa indigência espiritual. Que tragédia! Que farsa! Que espetáculo deprimente!