A hipocrisia nossa de cada dia (ou Tudo Como Dantes No Quartel De Abrantes)
Não gosto das festas de final de ano, com aquela atmosfera insincera e impostora e com muitos exercitando, de forma fingida, o melhor que existe em si e abandonando a porção fofoqueira, invejosa, cafajeste, mesquinha e arrogante.
Logo após as saudações de praxe na transição de 31 de dezembro para 1º de janeiro, é possível retornar à vida de sempre. Aquela crua na qual a hipocrisia e a falsidade dão o tom.
É assim porque o ano pode ser novo, mas a vida segue velha, no mesmo diapasão, pois todos sabemos que ela, a vida, não é somente um calendário no qual se conta o tempo e tampouco pode ser medida e explicada pela órbita da Terra.
O escritor franco-argelino Albert Camus, um dos maiores do século XX e um dos meus preferidos, dizia que “o que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…”.
A vida madura tem me ensinado muito e dela tenho tirado algumas lições prodigiosas:
1) Afastei-me dos falsos amigos, daqueles sobejamente conhecidos pela vileza vestida de terno gentil e ameno.
2) Restringi minhas amizades a poucas pessoas, com quem interajo virtual e pessoalmente. Alguns grandes amigos permanecem amigos e grandes, mesmo sem que eu com eles mantenha contato frequente.
3) Ando leve, procurando não me estressar com bobagens e futricas, principalmente as nascidas e cevadas no venenoso e tóxico ambiente de trabalho.
4) Conheci pessoa(s) maravilhosa(s) que (re)encontrei depois de anos e com elas passo boa parte do meu tempo.
5) Meus vícios hoje são ler, assistir filmes e seriados. E, claro, boa comida e boa bebida.
6) Voltei, depois de alguns anos, a praticar esportes.
Não aguardei, para mudar os hábitos, passagem de ano alguma. Fiz a transição ali por meados de 2019.
Minha qualidade de vida melhorou sensivelmente. Eu, que esperava morrer aos sessenta, já faço “planos” pr’os setenta.