Hora de trincar os dentes
Quando olho para o passado recente e leio textos de especialistas sedimento a ideia de que tragédia Dilma 2 não é proveniente apenas de Dilma 1. Tem grande parte de sua massa forjada em Lula 2.
Enquanto Antônio Palocci esteve à frente da economia, os fundamentos que regem a política econômica foram diligente e eficientemente manejados, obedecendo aos princípios construídos nos anos Itamar-FHC. Da queda de Palocci em diante, foram lançados para o alto e o novo czar da economia, Guido Mantega, deu as cartas.
O resultado: inflação e recessão. E a quem a esquerda atribuiu a responsabilidade? A Temer e a Bolsonaro.
Lula, como aplicado seguidor da contra-indução, faz novamente o caminho que deu errado, gastando como se não houvesse amanhã.
Com um Presidente irresponsável, um Congresso beirando a delinquência e um Judiciário voraz e sedento por recursos públicos, Roberto Campos Neto segurou, aos trancos e barrancos, a moeda e a inflação. De agora em diante, nada está muito garantido.
Galípolo, o novo presidente do Banco Central, ainda vai ter de provar se é leal ao país ou a Lula.
As declarações, por ora, são ajuizadas.
Para ele, o mercado não é um bloco monolítico, mas uma infinidade de agentes vendendo ou comprando ativos. “Quando o preço de ativo [como o dólar] se mobiliza em uma direção, têm vencedores e perdedores. Ataque especulativo não representa bem como o movimento está acontecendo no mercado hoje”. E para demonstrar que não haverá esbarrões, pontuou dizendo que Roberto Campos Neto foi generoso durante o processo de transição: “Na verdade ela foi uma transição entre amigos, e ele foi muito generoso ao longo desse processo de passagem de bastão, de dar liberdade, de falar: é importante que o Gabriel tenha um peso diferente na fala, nas decisões” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-12/galipolo-diz-nao-ver-ataque-especulativo-em-alta-do-dolar).
Não bastam, porém, só declarações – ainda que elas tenham peso considerável.
Vários economistas revisaram previsão para o resultado primário do governo em 2024 e 2025, conforme expõe o último relatório Prisma Fiscal, com a mediana registrando expectativa de saldo primário negativo de R$ 55,373 bilhões em 2024 (antes a previsão era de R$ 62 bilhões) e para 2025 com um déficit de R$ 87,265 bilhões (antes era R$ 89,574 bilhões) (https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/mercado-ve-deficit-fiscal-menor-em-2024-e-2025-mas-espera-piora-na-divida-mostra-prisma/).
O momento exige ação. E ação, agora, é cortar gastos, a começar pelas regalias dos marajás – para usar termo meio desgastado, mas ainda válido – do serviço público, cujo reflexo é o tamanho das despesas com os funcionários públicos, uma das mais elevadas numa relação de setenta países, com os gastos com pessoal da união, dos estados e dos municípios alcançando a marca de quase 14% PIB (https://fiesc.com.br/pt-br/imprensa/despesa-com-servidor-no-brasil-esta-entre-mais-elevadas-entre-mais-de-70-paises-aponta-cni#:~:text=O%20funcionalismo%20representa%2012%2C5,43%2C5%25%20com%20inativos.). No entanto, é preciso olhar mais a fundo para verificar que apesar da gastança desenfreada, é necessário e urgente rever alguns setores do funcionalismo público: forças armadas, poderes legislativo e judiciário, ministério público e um ou outro setor do executivo que se deleita nas gordas e suculentas tetas do Estado.
Sem uma reforma administrativa profunda, seguiremos enxugando gelo.