O insistente alarme da previdência social

por Sérgio Trindade foi publicado em 02.abr.25

A previdência brasileira é um Titanic à procura de um iceberg, mas, ao contrário do famoso transatlântico, naufragado na primeira viagem, os passageiros insistem que o mar está calmo.

Recentemente o ministro Vital do Rêgo, do Tribunal de Contas da União (TCU), em tom fúnebre, previu na revista Veja que, em cinco anos, o sistema desabará como um castelo de cartas. Para ele, “do jeito que está, a Previdência será inviável em cinco anos. Se a gente não mudar (…), talvez na próxima década não consigamos ter receita para pagar aos aposentados do Brasil” (https://veja.abril.com.br/paginas-amarelas/o-pais-pode-parar-alerta-presidente-do-tcu-sobre-previdencia/).

Há dois anos, o governo fez uma estimativa chocante: o rombo do sistema público que atende aos trabalhadores do setor privado, deve mais que dobrar até 2060 e quadruplicar até 2100, conforme já diziam analistas. Com a queda dos nascimentos no país e a política do Presidente Lula de conceder reajustes acima da inflação ao salário-mínimo, o déficit previdenciário crescerá em ritmo cada vez mais veloz.

Em entrevista ao G1 e à TV Globo, o mesmo Vital do Rêgo disse, um mês depois: “Quando eu entrei aqui [no TCU], dez anos atrás, nós tínhamos cinco contribuintes [trabalhadores] para cada beneficiário [aposentado ou pensionista, por exemplo]. Hoje nós temos 1.7 [com as mudanças demográficas]. Aí inviabiliza completamente, porque não só é aposentadoria, são benefícios, é todo o processo (…) Nós estamos com um paciente que está absolutamente debilitado e, até agora, eu não vejo remédio para tirar desse quadro. As notícias que têm são muito desanimadoras” (https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/02/24/presidente-do-tcu-diz-que-previdencia-e-uma-bomba-que-nao-vai-parar-de-explodir-e-defende-medidas-para-coibir-fraudes.ghtml).

Quando (ou se?) o cenário se confirmar, não adiantará espernear: aposentadorias, presentes e futuras, serão apenas números em um sistema sem saldo.

Agora, a pergunta que não quer calar: de quem é a culpa?

Antes que alguém tente apontar para Brasília como se fosse um bode expiatório, a resposta é simples: é de vocês.

Por décadas, cada contracheque veio com aquele desconto previdenciário. Trinta por cento do salário, uma mordida generosa, tudo com a promessa de um futuro tranquilo. Mas alguém perguntou onde esse dinheiro foi parar? Não. E agora, pasmem: o cofrinho está vazio e para que as contas fechem avançando no Tesouro, hoje quase impossibilitado de fazer investimentos.

Os cérebros iluminados do Ministério da Economia, que deveriam gerir esse bolo bilionário, simplesmente tocaram a flauta enquanto o Titanic afundava. Esqueceram de poupar. Esqueceram de investir. Mas não esqueceram de gastar – tapando buraco após buraco até não sobrar mais nada. O saldo, que deveria ser suficiente para sustentar o país por gerações, virou poeira. Em números: 110 trilhões de reais deveriam estar ali. Hoje, temos um emblemático e glorioso zero.

E agora, senhores e senhoras, o que fazer?

As opções formam um cardápio indigesto:

1) Trabalhar até o último suspiro, como fazem os idosos chineses e japoneses.

2) Se já se aposentaram, tirar a poeira do currículo e voltar à labuta.

3) Vender os imóveis, consumir o pouco que sobrou e torcer para o tempo de vida não durar mais do que o saldo bancário.

4) Cortar despesas ao osso – e rezar para não precisar de tratamento médico-hospitalar.

5) Depender da bondade alheia, esperando que as novas gerações abram mão do pouco que têm para sustentar quem já deu o que tinha que dar.

6) Fingir que nada está acontecendo e continuar discutindo amenidades na internet, enquanto o relógio da bomba avança.

Há mais de duas décadas, ouço de amigos e conhecidos, quando o assunto é a necessidade de uma reforma séria da previdência, retirando privilégios daqueles que ainda os mantêm, a seguinte resposta? “Ainda bem que já sou aposentado”. Pois bem, quem garantiu a sua aposentadoria, deite em berço esplêndido e aguarde a vez em que não haverá dinheiro para honrá-la.

O rombo do INSS, em 2024, segundo dados do Ministério da Previdência, foi de R$ 297 bilhões. O rombo na previdência dos trabalhadores do setor público mais o pagamento de pensões e no sistema de inatividade dos militares foi de R$ 112 bilhões. Somado, o sistema previdenciário brasileiro foi de R$ 409 bilhões.

A dura verdade é que fomos todos enganados – ou nos deixamos enganar O governo tratou a Previdência como um bufê de luxo, ao qual sempre recorria para pegar mais uma fatia do bolo sem pensar no que viria adiante. Agora, sem dinheiro e sem saída, só faz mais do mesmo,: empilha mais e mais dívidas, eleva os juros e condena as próximas gerações servidão tributária.

Jovens do Brasil, abram os olhos! (Já li algo parecido. Será que estou plagiando alguém?)

Vocês não herdarão um país, mas uma conta impagável. A escolha é simples: encarar a realidade e cobrar mudanças ou continuar varrendo a sujeira para debaixo do tapete – até o dia em que não houver mais tapete. Ele mesmo, tadinho, já gasto e puído.

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