Conhecimento socialmente referenciado
Ah, meu caro leitor, prepare-se para a dança macabra entre o saber e a máquina – essa relação incestuosa entre ciência e tecnologia. Sim, são amantes que se amam e se devoram, segundo os ases da filosofia de botequim, para os quais a ciência, essa virgem de jaleco, desvenda os segredos do cosmos com mãos trêmulas, enquanto a tecnologia, prostituta de circuitos, transforma mistérios em apps, em máquinas que nos espreitam como amantes ciumentas. Juntas, desenham um futuro no qual até Deus se pergunta: “Para onde foi a graça do impossível?”.
Mas não se engane. Por trás dessa farsa de progresso, há sangue. Sangue e hipocrisia, gritam os ases da explicação do fenômeno.
Assisti, há umas duas semanas, uma palestra digna de constar nos anais da imbecilidade militante e lembrei-me de um craque da crônica brasileira, para quem “a virtude é apenas uma mentira que inventamos para não admitir que somos todos uns canalhas”.
O doutor de ocasião fez exposição apropriada ao público sobre ciência e tecnologia, mais precisamente sobre tecnorracismo estrutural.
Seria, então, çiemssa e tequinologia?
Assistir àquela palestra foi como ver um cadáver declamar poesia. O doutor – ah, o doutor! –, com sua pose de mártir iluminado, vomitou pérolas como tecnorracismo estrutural. Sim, meu amigo: çiemssa e tequinologia! Descobri, entre risos amargos, que a máquina de ressonância magnética é uma gordofóbica de jaleco branco, e o mamógrafo, um sádico misógino que comprime seios como se esmagasse uvas para produzir um vinho diabólico. “Instrumento de tortura medieval!”, berrava o gênio de gafieira, enquanto a plateia aplaudia, hipnotizada pela própria estupidez.
E as casas de taipa? Ah, a taipa! Segundo o Nostradamus de flip chart, tudo não passa de um conluio entre empreiteiros e fabricantes de ar-condicionado. As paredes de alvenaria são fornos, diz ele, e o barbeiro – sim, o barbeiro! – é o bode expiatório da doença de Chagas. “Farsa tecnodesenvolvimentista!”, gritou, enquanto eu imaginava aquele inseto insidioso, lá no sertão, rindo até perder o fôlego.
Eis o retrato de nosso tempo: a ciência, que já foi farol, agora serve de palco para charlatães que transformam tubos de ensaio em armas de retórica vazia. E nós, pobres mortais, aplaudimos o espetáculo – entre um like e um gemido de mamógrafo.
No fim, resta a pergunta: “Até quando vamos confundir progresso com histeria?”.