O aviltamento da Academia

por Sérgio Trindade foi publicado em 24.out.24

Escrevi há uns dias sobre a performance de “historiadora” (ou “historiador”, segundo um amigo) numa universidade federal, “mostrando as partes”, como aprendi no sertão potiguar, meados dos anos 1970 (https://historianosdetalhes.com.br/educacao/historiador-safadeza/).

Errei duas vezes.

A primeira quando chamei a moça (ou moço, segundo um amigo) de historiador-safadeza.

Safo, a poeta grega que trouxe à lume, há aproximadamente 2.500 anos, o debate sobre gênero. Ela não merecia ver o seu nome associado à performance, digamos, “acadêmica” que todos assistimos.

A segunda quando inocentei a Universidade, não aquela que teve a (des)honra de ser palco da performance, mas a instituição universitária.

Há pesquisadores sérios que discutem a temática que pretensamente estava sendo debatida na mesa na qual houve a performance. Aqui mesmo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) conheço alguns e já fui aluno, na graduação e no mestrado, de um. Por sinal, excelente professor, dos melhores que já tive.

As universidades, porém, insistem em dar palco para gente que quer fazer performances e não para aqueles que querem divulgar estudos sérios sobre temática que mobiliza muita atenção.

O resultado é que se pula do estudo científico para a militância e desta para a lacração. E quando a militância e a lacração entram em cena, a ciência sai de fininho, entre tímida e envergonhada.

E de novo temos um resultado negativo, a desmoralização de uma causa por um monte de boboca e de babaca saltitando, rebolando e se exibindo em performances canhestras na defesa de uma causa e carregando consigo uma instituição milenar, a Universidade, conduzida por gestores incapazes de reconhecer o papel que deveriam desempenhar a frente dela.

A performance ocorrida na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foi grotesca e em nada contribuiu para o debate acadêmico. Faço um reparo: contribuiu, sim. Para estigmatizar ainda mais a minoria das pessoas trans e travestis.

Dizer o óbvio hoje numa Escola é um risco, pois há grupos de todos os tipos que controlam a agenda, os recursos, etc e se você abre a boca para questioná-los logo será rotulado de racista, homofóbico, misógino, extrema direita, terraplanista, negacionista, etc. e será, anotem aí, perseguido e sufocado, com risco sério de ter carreira destruída.

A Universidade é o espaço de produção do conhecimento, da diversidade e da pluralidade. E da tolerância, mas não o da avacalhação.

Se a Universidade diz ser o locus da produção científica, deve a Universidade valorizar a ciência e os cientistas, separando-os dos militantes.

O cientista pode fazer militância, no entanto o espaço para tal não é o acadêmico (salas de aula, laboratórios, centros de pesquisa, etc), afinal, diferentemente do militante, preocupado apenas e tão-somente com a satisfação das suas reinvindicações e com a conquista do espaço e do poder político, o cientista deve se preocupar com o que a realidade vai lhe mostrar – corroborando ou contradizendo a sua visão política-ideológica.

Ou a Universidade mata a lacração, ou a lacração mata a Universidade.

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