A autoridade corinthiana e a travessia vascaína

por Sérgio Trindade foi publicado em 21.dez.25

O Corinthians venceu o Vasco da Gama, no Maracanã, por 2 a 1. A frase é simples, quase tímida, mas esconde um tratado de sociologia, metafísica e destino. Não foi apenas um jogo de futebol, mas a reafirmação de uma hierarquia silenciosa que se construiu nos últimos quinze anos, tijolo por tijolo, gol por gol, enquanto o Vasco vagava por desertos administrativos, abismos financeiros e epifanias mal resolvidas.

O Maracanã, um palco de tragédias e epopeias, assistiu a mais um capítulo em que o Corinthians se comportou como aquilo que aprendeu a ser no século XXI: um time que não pede licença à história alheia. O placar de 2 a 1 não traduz a extensão do domínio psicológico. O Corinthians entrou em campo como quem já sabe o final da peça. O Vasco, ao contrário, ainda lê o primeiro ato com a ansiedade de quem teme o desfecho.

Há quinze anos, o Corinthians se acostumou a tratar o Vasco como um parente ilustre que perdeu o rumo. Não com desprezo, nunca, mas com a condescendência de quem venceu Libertadores, Mundial, Brasileiros, Copas do Brasil, e aprendeu a lidar com decisões como quem vai à padaria. O Corinthians desses anos todos não joga contra camisas e, sim, contra o tempo – e quase sempre vence.

O Vasco segue na fila. Quatorze anos sem um título nacional ou internacional. E aqui é preciso cuidado, pois, meus três ou quatro leitores, a fila não é apenas um dado estatístico, mas é um estado de espírito. A fila corrói, envelhece, cria fantasmas. A cada nova derrota, o torcedor vascaíno perde um jogo e, de certa forma, perde uma memória futura. O Corinthians, por sua vez, vive o inverso, colecionando lembranças antes mesmo que elas aconteçam.

Mas atenção: o Vasco não está morto.  Anotem: nada é mais perigoso do que um gigante humilhado que ensaia ressuscitar. Há sinais claros de renascimento. O clube tenta, tropeça, cai, levanta-se com dignidade. E isso, paradoxalmente, engrandece ainda mais a vitória corinthiana. Porque vencer um adversário em reconstrução é mais complexo do que atropelar um cadáver.

O Corinthians venceu porque sabe vencer. Porque transformou o sofrimento em método e a desgraça em escola. Porque fez da Fiel uma entidade metafísica que empurra a bola mesmo quando o chute sai torto. O Vasco perdeu porque ainda busca sua identidade num mundo que mudou rápido demais.

Imagem feita com auxílio de IA

Ao final, o placar confirma o que o tempo já havia escrito. O Corinthians segue soberano, senhor de si, herdeiro de uma década e meia de afirmação. O Vasco continua sua travessia bíblica, carregando a cruz da espera, agora, porém, com sinais de fé renovada.

O futebol não perdoa quem vive de passado, mas às vezes recompensa quem insiste em ressuscitar. Hoje, porém, a noite foi do Corinthians. E foi uma noite de autoridade

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