Bola de Ouro: a vitória da insipidez inodora

por Sérgio Trindade foi publicado em 24.set.25

Ousmane Dembelé foi eleito o melhor jogador do mundo. Justíssimo, indiscutível, irretocável. E, por isso mesmo, um dos mais sem graça da história humana. Não da história do futebol – da humanidade!

Dembelé é o único craque que consegue ser campeão mundial e, ainda assim, dar a sensação de que você está assistindo a uma missa de sétimo dia.

Imagem feita com auxílio de IA

A Bola de Ouro é organizada pela France Football, essa mesma revista que transforma a escolha do melhor jogador numa procissão solene de beatos do futebol. Jornalistas do planeta inteiro votam com a seriedade de um velório, como se estivessem canonizando Madre Teresa. Critérios: desempenho individual, títulos coletivos e fair play. Fair play?! Ora, deem a Bola de Ouro logo a um juiz de pequeno porte, ou a uma freira carmelita, que são muito mais exemplares.

Houve um tempo em que o prêmio tinha alma, pecado, veneno. Romário, um rebelde juramentado. George Weah, um épico africano. Ronaldinho Gaúcho era o deboche encarnado, sorrindo como se estivesse driblando a própria sogra. Cannavaro, um zagueiro!, ganhou o troféu – e foi um escândalo maravilhoso. Kaká parecia um anjo de novela mexicana. Depois, o Apocalipse Messi-Cristiano: dois deuses trocando socos em versos de Homero.

Mas agora o futebol virou planilha de Excel. Chegamos a Dembelé, que joga bem, mas tem o carisma de um porteiro de condomínio. Ele é o “craque” que ninguém discute porque não há nada a discutir. É a vitória do insosso, do neutro, do sem gosto. Um craque diet, zero açúcar, sem glúten. É a garrafa d’água mineral coroada rei, enquanto o vinho, a cerveja e a cachaça ficam esquecidos no boteco.

O futebol nunca pediu justiça. Ele pede canalhice, pede gols ilegais, pede a mão de Maradona e a cabeçada de Zidane no peito do zagueiro falastrão. Dembelé é o contrário disso: o craque sem pecado. E não há nada mais obsceno do que a virtude absoluta. A Bola de Ouro de 2025 será lembrada como um Oscar contábil.

Dembelé é a vingança da mediocridade penteada com gel. É o triunfo do craque que joga muito, mas não arranca um palavrão, não gera um briga de bar, não inspira uma crônica maldosa. Em resumo: é a vitória do futebol sem tesão.

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