Europa versus Brasil no Mundial de Clubes

por Sérgio Trindade foi publicado em 22.dez.19

O Flamengo fez um jogo digno, ontem, contra o Liverpool, como faziam os times brasileiros contra os europeus até o final dos anos 1990.

Lembro da final Cruzeiro X Bayer, em 1976, quando a disputa era em jogos de ida e volta.

No jogo de ida, o Cruzeiro perdeu por 2 a 0, em jogo disputado embaixo de neve e no qual o goleiro Raul fez grande partida; no jogo da volta, o goleiro Sepp Mayer fechou o gol, garantiu o 0 a 0 e o título foi para Munique.

Somente cinco anos depois, em jogo único, disputado em Tóquio, o futebol brasileiro representado pelo Flamengo passeou em campo. No primeiro tempo finalizou o Liverpool, 3 a 0.

Em 1983, também em Tóquio, o Grêmio venceu o Hamburgo por 2 a 1, em partida memorável de Renato, então jovem estrela do time gaúcho e que faria nome no futebol brasileiro como Renato Gaúcho.

Depois do Grêmio, no início dos anos 1980, os times brasileiros se fizeram fortemente presentes na final do mundial na década seguinte.

O São Paulo, em 1992 e 1993, venceu o Barcelona (2 a 1) e Milan (3 a 2). Em 1995, o Grêmio empatou com o Ajax (0 a 0), base do selecionado holandês, no tempo normal e perdeu nos pênaltis por 4 a 3. Dois anos depois, o Cruzeiro perdeu por 2 a 0 para o Borússia Dortmund. Em 1998, o Vasco da Gama perdeu pro rico Real Madrid (2 a 1) e o Palmeiras, no ano seguinte, para o Manchester United (1 a 0).

Daí em diante fizemos figuração, mesmo quando ganhamos com São Paulo, em 2005, contra o Liverpool, com o Internacional contra o Barcelona, em 2006, e com o Corinthians contra o Chelsea, em 2012.

As vitórias foram enganosas, pois o tricolor paulista foi pressionado o tempo todo pelo Liverpool, o Internacional jogou contra um Barcelona enfastiado e o Corinthians enfrentou a zebra que ganhou a Champios League e, ainda, assim, o alviazulino inglês foi bem melhor.

Quando perdemos, Santos 0 X 4 Barcelona e Grêmio 0 X 1 Real Madrid, os jogos foram muito desiguais.

O Santos levou um passeio e não perdeu de mais porque o Barcelona pôs o pé no freio; a derrota do Grêmio por placar mínimo assim foi porque os madrilenhos tiraram o pé do acelerador.

Ninguém em sã consciência acredita que o Flamengo seja igual ao Liverpool. O elenco rubro-negro carioca vale 1/10 do elenco alvirrubro inglês. Mas é fato que, depois de vinte anos, um time brasileiro jogou sem se intimidar.

Assistindo analistas e conversando com amigos, ouço e leio que Jorge Jesus mexeu errado no time, pondo Vitinho e Diego, um atacante e um armador, no lugar de dois armadores, Arrascaeta e Evérton, perdendo o meio campo.

Arrascaeta e Evérton não fizeram bom jogo e não tinham mais perna para desarmar no campo de defesa e chegar com vigor no ataque. A mexida de JJ despovoou o meio de campo do Flamengo e inviabilizou a ligação entre o meio e o ataque, mas não foi a responsável pela derrota. Ao final da peleja, o que prevaleceu foi a superioridade do time da terra dos Beatles. Faltou mais qualidade técnica ao elenco flamenguista. E também – e principalmente – faltou perna.

O Flamengo teve duas janelas para vencer a partida. Juntas, elas foram de uns 20 minutos. Fora isso, o Liverpool foi superior e ameaçou mais o gol dos brasileiros do que o contrário. Os ingleses perderam gols, arremataram mais contra o gol de Diego Alves, que trabalhou mais do que Alisson.

O Liverpool foi melhor ontem e é melhor do que o Flamengo, o que não é demérito algum para o time do Rio de Janeiro.

A jornada do Flamengo ao longo de 2019 e o jogo de ontem podem ser janela aberta para o futebol brasileiro.

Espero que saibamos aproveitá-la.

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