Foi sobrenatural a campanha do Fluminense

por Sérgio Trindade foi publicado em 08.jul.25

O Fluminense protagonizou, com aquele ar de inevitabilidade trágica, uma campanha que mais parecia um espetáculo de reformulação do destino, na Copa do Mundo de Clubes da FIFA, jogada nos longos e quase infernais dias dos Estados Unidos, entre 15 de junho e 13 de julho.

No Grupo F, acompanhado por nomes que já traziam em seus ares o perfume da hegemonia europeia representada pelo Borussia Dortmund, e pelos poucos festejados Ulsan Hyundai e Mamelodi Sundowns, o tricolor carioca estreou com um empate sem gols contra o poderoso time alemão, em 17 de junho, dominando o rival com a astúcia e autoridade.

Na fase mata-mata,  o Fluminense confirmou sua vaga nas oitavas de final ao bater o Inter de Milão por 2 a 0, em 30 de junho, com os gols de Germán Cano e Hércules, verdadeiros golpes cirúrgicos, que revelavam a vontade de fazer valer uma ordem que não era de Deus nem do homem. Logo depois, num confronto que mais parecia cena de tragédia grega, enfrentou e venceu o Al-Hilal por 2 a 1, garantindo a vaga às semifinais.

Elevando-se ao topo do teatro global, o Fluminense firmou-se entre os quatro melhores clubes da competição, o último representante sul-americano em um torneio no qual a Europa reinava soberana. Porém, o destino, esse artífice cruel, interrompeu a maratona tricolor nas mãos do Chelsea, em semifinal, no MetLife Stadium hoje, 8 de julho, quando Joao Pedro, formado pelo time do Rio de Janeiro e agora a serviço dos ingleses, cravou os dois gols que selaram o destino do ex-clube.

A campanha marcada por uma defesa sólida – apenas três gols sofridos, três jogos com a meta imaculada e uma eficiência nos contra-ataques que beirava o milagre – serviu também para encher os cofres: foram 26,7 milhões de dólares pela etapa de grupos e mais 13,1 milhões pelas investidas nas fases eliminatórias, quantia que faria vibrar até o mais sequioso banqueiro.

A participação do Fluminense no torneio mundial foi um misto de estratégia coletiva, desempenho acima das expectativas e um peso financeiro que, ironicamente, nada compensou a eliminação nas semifinais. A verdade que se impõe é que o futebol sul-americano, mesmo em meio ao escárnio e à frustração, tem ainda muito a dizer no cenário global – embora o seu grito seja abafado pelo estrondo dos europeus.

O Fluminense, o mais fraco – em aparência, pelo menos – dentre os quatro representantes brasileiros na 1ª Copa do Mundo de Clubes, fez boa figura. Entre seus destaques, encontramos três presenças de corte emblemático: o goleiro Fábio, um senhor de 44 anos que já viveu mais meses do que muitos ambiciosos; Jhon Árias, um cracaço de bola, hoje marcado de perto e anulado pelos ingleses; Thiago Silva, que ainda ostenta o título de melhor zagueiro brasileiro; e Sobrenatural de Almeida, personagem esculpido pelo gênio de Nelson Rodrigues, maior torcedor do time das Laranjeiras.

Muita garra, boa tática e uma pitada de técnica foram dispostos em campo durante todo o mundial. O jogo contra o Chelsea, apesar de algumas estocadas promissoras do time do Rio de Janeiro, desnudou a realidade: os ingleses, soberanos, dominaram a partida de forma fria e calculada, vencendo-a por 2 a 0. Poderia ter sido 3 a 1, 4 a 2… O que ficou claro, tão certo quanto o Bayer vencendo o Flamengo, foi que o Chelsea não se arriscou, e o Fluminense, por mais que tentasse, não representou ameaça à supremacia britânica.

Apesar de todas as limitações impostas por um destino que se diverte com as ironias do futebol, o tricolor chegou longe e saiu engrandecido – não apenas em números, mas na eterna disputa entre o sonho e o desengano que, em cada lance, se eterniza.

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