O eterno para a eternidade

por Sérgio Trindade foi publicado em 02.maio.22

Na última sexta-feira, acompanharei emocionado alguns lances da inauguração da estátua de Roberto Dinamite, no estádio de São Januário, do Clube de Regatas Vasco da Gama.

A cerimônia contou com a presença de dois ídolos do Flamengo, Zico e Junior.

Todos temos ídolos e o meu primeiro foi Carlos Roberto de Oliveira ou simplesmente Roberto Dinamite.

A escolha foi feita quando eu tinha de seis para sete anos e meu pai, vascaíno desde os anos 1940, acompanhava, pelo rádio, em Florânia, interior do Rio Grande do Norte, a vitoriosa campanha do título brasileiro do Vasco da Gama, em 1974.

Meu pai sempre acompanhou os jogos do Vasco da Gama e eu passei a ser acompanhante de meu pai ao lado do rádio e, depois, da televisão, quando os jogos eram transmitidos pela caixinha de imagem, como eu a chamava. Um dia, ainda em 1974, perguntei quem eram os maiores jogadores do time e ele imediatamente falou do meia Zanata e do goleiro Andrada, para logo em seguida desfiar elogios ao jovem artilheiro Roberto Dinamite. Gostei da empolgação de papai. Muitos amigos de papai também eram vascaínos. E todos elogiavam Roberto. E assim Roberto, o jovem craque vascaíno, entrou na minha vida e nunca mais saiu. Passei a jogar bola dizendo ser Roberto Dinamite. Dali até o final da carreira, Roberto foi, para mim, o ídolo maior. Dali em diante, até o início de minha adolescência, quis ser Roberto Dinamite. De minha adolescência até hoje, sigo admirando-o como um dos grandes de todos os tempos. Assim é porque Roberto lembra a minha infância interiorana e a minha adolescência de peladeiro nos campos de Natal, lembra o meu pai, os meus amigos…

Lembro de alguns momentos especialmente marcantes. Cito três.

1) A derrota do Vasco, em São Januário, para o América de Natal, por 1 a 0, gol de Washington, em 27 de setembro de 1975, um dia após o meu aniversário de oito anos. Acompanhei o jogo pelo rádio, ao lado do meu pai. Foi talvez um dos maiores sofrimentos de minha vida até então, porque o Vasco perdia, em casa, para um time considerado pequeno e ainda por cima o rival do meu ABC e isso me faria ser duplamente sacaneado pelos meus amigos torcedores do Flamengo e do América. Eu simplesmente não entendia como era possível o Vasco perder para o América e porque Roberto sendo o craque que era não conseguiu impedir a derrota e meu pai, pacientemente, explicou que no futebol era assim, com vitórias e derrotas e nem sempre o melhor time vencia. Aceitei, mas a derrota foi amarga demais. Curiosidades: A) a vitória do América foi uma zebra tão grande que pela primeira vez um torcedor ganhou sozinho na loteria esportiva, porque na hora de preencher o volante pensou tratar-se do América do Rio de Janeiro. B) A partida foi apitada por Silvio Luiz, que fez história como narrador esportivo.

2) O gol de placa de Roberto contra o Botafogo, no Maracanã, em 1976, aplicando um chapéu no bom zagueiro Osmar, fuzilando o goleiro Wendell e garantindo a virada vascaína, 2 a 1, aos 45 minutos do segundo tempo (https://www.youtube.com/watch?v=NFSOeOUTMsw). Curiosidade: a duas rodadas do fim, o Flamengo era o líder da Taça Guanabara e o Vasco precisava vencer o Botafogo para manter as chances de ganhar o turno. O Botafogo vencia o jogo por 1 a 0 até os 18 minutos do segundo tempo, quando Roberto empatou a partida. O golaço aos 45 minutos do segundo tempo permitiu que o Vasco seguisse com chances contra o Flamengo, a quem venceu, depois de um 1 a 1, por 5 a 4 nos tiros livres da marca do pênalti, garantindo o título da Taça Guanabara (primeiro turno do campeonato do Rio).

3) Roberto não estava na lista de convocados para a Copa de 1978, na Argentina, só sendo chamado após contusão de Nunes. Ficou na reserva de Reinaldo, mas depois que a Seleção Brasileira começou empatando os dois primeiros jogos, contra Espanha e Suécia, a terceira e última partida da primeira fase, contra a Áustria, seria dramática. Comenta-se que o almirante Heleno Nunes, presidente da então CBD e vascaíno, interveio no time e exigiu a titularidade de Roberto. A Seleção venceu o jogo por 1×0, gol de Roberto, que garantiu a vaga no time titular até o fim da Copa, vencida pelos anfitriões.

Estes três momentos e o título carioca de 1977 foram definidores de minha adoração por Roberto, injustiçado em 1982, quando viu, da arquibancada o ataque da maravilhosa equipe do Brasil ser comandado por Serginho.

A estátua que o Vasco erigiu em São Januário para Roberto Dinamite faz justiça ao maior ídolo do clube. A presença de Junior e de Zico, grandes adversários, deu um toque para lá de especial, porque mostra que a rivalidade por mais renhida que seja dentro das quatro linhas não é superior à civilidade e à amizade.

Roberto merece muitas estátuas. Algumas dezenas ainda seriam poucas por tudo o que ele representou e representa para o Vasco da Gama e para a minha geração, que aprendeu a gostar de futebol vendo-o jogar.

Roberto Dinamite foi uma espécie de pai para mim, tão distante e tão perto, atencioso e prestativo, solícito e educado. Que nunca seja esquecido. A sua história e a estátua em São Januário seguirão firmes nos lembrando que Roberto sempre estará ali. Como estará no Maracanã e em todos os estádios por onde jogou.

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