Primeiros amores de infância
Até os anos 1960, os brasileiros geralmente escolhiam para torcer um time de seu estado e um do Rio de Janeiro, então capital do país (situação que ocupou até abril de 1960, quando Brasília foi fundada e passou a sediar o governo).
Na era Pelé, o Santos era o terceiro time de muita gente, por razões para lá de óbvias.
Ouvi, ainda menino, de meu pai: “Sérgio, nunca se muda de time de futebol. Você pode casar e se separar, ser criado e adotado por outros pais, mas ao escolher um time de futebol, saiba – é para sempre.”
O meu pai, torcedor de ABC e Vasco da Gama, escolheu os times de coração porque ambos dominavam o futebol, no Rio Grande do Norte e no Rio de Janeiro, quando ele começou a se interessar por futebol. Também porque ele era daqueles que escolhem os times pelos quais torcerá pelas cores. No caso do meu pai, preto e branco.
Cedo, transferiu para mim o amor pelos dois alvinegros, o de Natal e o do Rio de Janeiro, e adotei o São Paulo como terceiro time, depois que o tricolor paulista saiu de um resultado adverso (perdia por 3 a 1) pro América-RN para uma vitória heroica (4 a 3), nos últimos quinze minutos da partida, em jogo válido pelo Brasileirão, em meados de 1975.
Antes de escolher o tricolor paulista, namorei com o tricolor pernambucano ao assistir, pela TV Globo Nordeste, com sede em Recife (o sinal da Globo chegava ao Rio Grande do Norte a partir da capital pernambucana), uma partida do campeonato pernambucano, ali por 1973.
A proximidade com o Santa Cruz-PE, o Santinha, ficou só no namoro furtivo, pois só fui vê-lo em ação novamente pelo campeonato brasileiro de 1975, na semifinal contra o timaço do Cruzeiro, que seria vice-campeão ao perder a final para outro timaço, o Internacional-RS.
Os quatro semifinalistas foram Internacional (Falcão, Figueroa, Manga, Valdomiro, Carpegiani, Lula), Cruzeiro (Raul, Nelinho, Palhinha, Eduardo Amorim, Piazza, Zé Carlos, Joãozinho), Palmeiras (Leão, Ademir da Guia, Nei) e o Santinha, que tinha uma garotada que faria no futebol nacional (como jogadores e/ou treinadores), Nunes, Givanildo, Ramon, Fumanchu, Lula Pereira e Levi Culpi.
ABC e Santa Cruz irão se enfrentar pelo menos quatro vezes este ano, duas pela série C e duas pela Copa do Nordeste, maior campeonato regional do país.
No primeiro jogo, pela série C, um 0 X 0, na Arena Pernambuco, em jogo movimentado, sábado último. O placar não traduziu o que foi a partida.
Na segunda partida, no Frasqueirão, ontem, pela Copa do Nordeste, que teve como preliminar Real Madri X Bayern de Munique, o ABC saiu vencedor com gol marcado por Leandrão, ainda no primeiro tempo.
Assisti às duas partidas lembrando-me do meu falecido pai. Torci pelo ABC rememorando a conversa que tive com ele quando eu tinha uns 5 ou 6 anos. Gostaria de ver os dois times avançando na Copa do Nordeste e na série C, de preferência só empatando.
É possível que avancem, juntos, na série C; não o é no campeonato regional. Então, que avance o alvinegro potiguar.
O Santinha saberá esperar por 2019. E que lá não encontre o Mais Querido.
Por Sérgio Trindade