A primeira pedalada a gente nunca esquece – ou de como ascender socialmente sem sair do lugar

por Sérgio Trindade foi publicado em 19.ago.17

Antes das pedaladas fiscais, Dilma inventou outras pedaladas.

Fazer as famílias ascenderem do andar de baixo da sociedade para a classe média era, para Dilma e a curriola que a cercava, apenas uma questão de truque contábil a ser escondido em dados estatísticos duvidosos.

Roberto de Oliveira Campos foi ministro, embaixador, deputado federal e senador e um dos mais qualificados e cultos economistas que o Brasil já produziu. E um polemista praticamente imbatível, ácido, irônico e de humor ferino. É de Campos uma das mais deliciosas constatações acerca do que significam os dados estatísticos: “As estatísticas são como o biquíni: o que revelam é interessante, mas o que ocultam é essencial”.

Não discuto que o Brasil passou por um estágio de inclusão social significativo desde 1994, quando foi lançado o Plano Real, até Lula, quando foram consolidadas das bases primeiras e lançadas novas bases dos projetos de renda mínima.

Daí a dizer que milhões ingressaram na classe média em virtude dos projetos de renda mínima é quase uma piada. De mau gosto.

Alberto Hirschman pontuou que nós da latino-américa somos useiros e vezeiros em identificar facilmente os nossos erros e atrasos e, por isso, não olhamos para os nossos avanços. Flertamos escondidos ou abertamente com o fracasso.

Talvez seja de nossa alma latina ir da euforia à depressão em poucos instantes. Somos assim mesmo, quando fracassamos somos o pior do mundo, quando o sucesso nos sorri festejamos como se tivéssemos alcançado o zênite.

Dos latinos-americanos, então, os brasileiros, talvez em companhia dos argentinos (dos portenhos mais especificamente), vão do complexo de vira-latas ao de super-homem num piscar de olhos.

Apesar dos avanços que experimentamos em alguns quesitos, nunca antes na história deste país mentimos tanto sobre o que fizemos.

O fracasso experimentado foi bom para mostrar que os modelos escolhidos não são os mais adequados para entrarmos no baile de primeiro mundo, um desejo acalentado pelos nossos dirigentes desde sempre e para os quais eles não se preparam minimamente.

Entre os Presidentes da República pós-redemocratização três foram mentirosos contumazes: Collor, Lula e Dilma.

Não abordarei os dois primeiros aqui neste espaço, porque são narcisistas hiperbólicos e incuráveis (Fernando Henrique também é um narcisista, de outro tipo – a vaidade do sociólogo intelectual ultrapassa à de homem de Estado). Ademais, Dilma se presta à perfeição para ilustrar o fracasso do modelo econômico adotado na era PT, principalmente a partir da segunda metade do governo Lula.

Aqui neste artigo vou indicar apenas um dado estatístico (deixarei outros para artigo posterior), o da fulgurante ascensão social das classes, digamos, despossuídas para a classe média.

Segundo a (ex) Presidente Dilma, os governos do PT foram grandes responsáveis por, talvez, um dos mais formidáveis casos de sucesso no campo social, o resgate de famintos e famélicos que, num passe de mágica, saíram de suas condições de famintos e famélicos e ingressaram na classe média.

Qual o grande mérito do governo Dilma Rousseff neste feito digno de fazê-la concorrer ao Nobel da Paz?

Simples, como não são as soluções para os casos de alta complexidade: a czarina Rousseff, a primeira – e espero – única de uma geração de gênios estadistas decretou, possivelmente por sugestão de conselheiros ou, pior, sugestionando conselheiros, que todo cidadão brasileiro que, em 2013, ganhasse de R$ 291 a 1019 por mês seria um feliz (?) integrante da abominável classe média que tanto apanha dos intelectuais petistas, Marilena Chauí à frente.

Por que nunca ninguém nunca pensou nisso antes?!

O Brasil perdeu, por décadas, a chance de estar entre os maiorais do mundo com um simples golpe de caneta.

 

Por Sérgio Trindade

posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar