A primeira pedalada a gente nunca esquece – ou de como ascender socialmente sem sair do lugar
Antes das pedaladas fiscais, Dilma inventou outras pedaladas.
Fazer as famílias ascenderem do andar de baixo da sociedade para a classe média era, para Dilma e a curriola que a cercava, apenas uma questão de truque contábil a ser escondido em dados estatísticos duvidosos.
Roberto de Oliveira Campos foi ministro, embaixador, deputado federal e senador e um dos mais qualificados e cultos economistas que o Brasil já produziu. E um polemista praticamente imbatível, ácido, irônico e de humor ferino. É de Campos uma das mais deliciosas constatações acerca do que significam os dados estatísticos: “As estatísticas são como o biquíni: o que revelam é interessante, mas o que ocultam é essencial”.
Não discuto que o Brasil passou por um estágio de inclusão social significativo desde 1994, quando foi lançado o Plano Real, até Lula, quando foram consolidadas das bases primeiras e lançadas novas bases dos projetos de renda mínima.
Daí a dizer que milhões ingressaram na classe média em virtude dos projetos de renda mínima é quase uma piada. De mau gosto.
Alberto Hirschman pontuou que nós da latino-américa somos useiros e vezeiros em identificar facilmente os nossos erros e atrasos e, por isso, não olhamos para os nossos avanços. Flertamos escondidos ou abertamente com o fracasso.
Talvez seja de nossa alma latina ir da euforia à depressão em poucos instantes. Somos assim mesmo, quando fracassamos somos o pior do mundo, quando o sucesso nos sorri festejamos como se tivéssemos alcançado o zênite.
Dos latinos-americanos, então, os brasileiros, talvez em companhia dos argentinos (dos portenhos mais especificamente), vão do complexo de vira-latas ao de super-homem num piscar de olhos.
Apesar dos avanços que experimentamos em alguns quesitos, nunca antes na história deste país mentimos tanto sobre o que fizemos.
O fracasso experimentado foi bom para mostrar que os modelos escolhidos não são os mais adequados para entrarmos no baile de primeiro mundo, um desejo acalentado pelos nossos dirigentes desde sempre e para os quais eles não se preparam minimamente.
Entre os Presidentes da República pós-redemocratização três foram mentirosos contumazes: Collor, Lula e Dilma.
Não abordarei os dois primeiros aqui neste espaço, porque são narcisistas hiperbólicos e incuráveis (Fernando Henrique também é um narcisista, de outro tipo – a vaidade do sociólogo intelectual ultrapassa à de homem de Estado). Ademais, Dilma se presta à perfeição para ilustrar o fracasso do modelo econômico adotado na era PT, principalmente a partir da segunda metade do governo Lula.
Aqui neste artigo vou indicar apenas um dado estatístico (deixarei outros para artigo posterior), o da fulgurante ascensão social das classes, digamos, despossuídas para a classe média.
Segundo a (ex) Presidente Dilma, os governos do PT foram grandes responsáveis por, talvez, um dos mais formidáveis casos de sucesso no campo social, o resgate de famintos e famélicos que, num passe de mágica, saíram de suas condições de famintos e famélicos e ingressaram na classe média.
Qual o grande mérito do governo Dilma Rousseff neste feito digno de fazê-la concorrer ao Nobel da Paz?
Simples, como não são as soluções para os casos de alta complexidade: a czarina Rousseff, a primeira – e espero – única de uma geração de gênios estadistas decretou, possivelmente por sugestão de conselheiros ou, pior, sugestionando conselheiros, que todo cidadão brasileiro que, em 2013, ganhasse de R$ 291 a 1019 por mês seria um feliz (?) integrante da abominável classe média que tanto apanha dos intelectuais petistas, Marilena Chauí à frente.
Por que nunca ninguém nunca pensou nisso antes?!
O Brasil perdeu, por décadas, a chance de estar entre os maiorais do mundo com um simples golpe de caneta.
Por Sérgio Trindade