Yes, nós tivemos um Goebbels
Sou fascinado pela figura de Getúlio Dorneles Vargas, a nossa esfinge, principalmente pelo homem que, nas décadas de 1930-40, mandou sozinho no Brasil – sem Congresso Nacional, sem governadores e sem prefeitos para lhe fazer oposição.
E sem mídia independente também.
Disso cuidou Lourival Fontes, o Goebbels brazuca.
Sergipano nascido em Riachão do Dantas no ano de 1899, Lourival Fontes colaborou em jornais de seu estado e da Bahia e foi um entusiasta de primeira hora da Aliança Liberal.
Entre 1931 e 1932 atuou na imprensa carioca junto com o integralista Plínio Salgado, e na Prefeitura do Distrito Federal, onde chegou a ser oficial de gabinete do prefeito.
Representante dos usineiros segipanos junto ao Instituto do Açúcar e do Álcool, em 1933, donde saiu para dirigir o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC) entre 1934 e 1937, transformado, no ano seguinte, em Departamento Nacional de Propaganda e, a seguir, em 1939, no famigerado Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), à frente do qual ficou até 1942.
A poeta e jornalista Adalgisa Nery, mulher belíssima e culta, viúva do pontos modernista Ismael Nery, casou em 1940 com o chefe do DIP, considerado um homem muito feio e deselegante por dez entre dez mulheres cariocas.
Com olhos assimétricos, um bem aberto e virado para um lado e o outro meio fechado, olhando para o lado oposto, o jornalista sergipano ganhou o apelido de Um Olho no Padre e teve o seu perfil cruelmente traçado por Emmanuel Nery, filho caçula de Adalgisa Nery e seu enteado, no livro Couraça da alma.
Nery inicia o texto descrevendo o padrasto como homem honesto e de profunda sensibilidade política, para depois chamá-lo de vesgo – com “olho que olhava para cima e para a direita e outro que olhava para a esquerda e para baixo” –, e finalizar praticamente destruindo-o: “Desleixado na aparência, sempre com a camisa borrada de cinza do cigarro e as cuecas infectas, pois se limpava mal e contra a vontade ao levantar-se das latrinas, fossem elas domésticas ou em castelos de lordes britânicos. Por sinal, raramente puxava as válvulas. Era inclusive comum minha mãe entregar ao motorista dele um embrulho com uma ou duas cuecas, caso o próprio notasse que o ar ao seu redor ficara um tanto poluído”.
Além de feio como o original alemão, o nosso Goebbels era sujo.
E não só isso.
Corria no Rio de Janeiro que o Presidente Vargas e Adalgisa Nery tiveram um affair e o burburinho foi crescendo até que um assessor próximo a Vargas disse ao Presidente estar preocupado.
– Com o quê?, quis saber o Presidente.
– Correm rumores de que o senhor e dona Adalgisa Nery estão tendo um caso.
– Ah, é isso? Não se preocupe, isso é coisa que o Lourival Fontes anda dizendo. Ele gosta de contar vantagem.