Mirassol: da Lagoa Nova a Capim Macio
Morei no conjunto Mirassol em três momentos: alguns meses, de forma temporária, em 1975, de 1979 a 2001 e de 2010 a 2021.
Algumas das melhores recordações de minha vida são dali, ali é o lugar onde fiz alguns dos meus melhores amigos, amizades que carrego comigo há quatro décadas e um dia, espero, escreverei sobre isso.
A região que hoje corresponde ao bairro de Capim Macio, ainda como Lagoa Nova, começou a virar área residencial quando, em 1973, o empresário João Veríssimo da Nóbrega comprou imensa área para fazer o loteamento Cidade Jardim, no momento em que praticamente estavam sendo entregues as casas do conjunto habitacional Mirassol. O passo inicial, porém, diz Itamar de Souza, foi “a construção do conjunto residencial D. Jaime Câmara, na Potilândia”, pouco antes do posto fiscal, onde foram postas correntes, que demarcavam o limite urbano da cidade (ficavam próximas ao Arena das Dunas, no ponto onde começa a BR-101).
Havia pouca coisa em volta do conjunto Mirassol: o nascente campus universitário, as fábricas Soriedem (atualmente é o Via Direta), Reis Magos (no terreno no qual foi construído o Natal Shopping Center) e TBarreto (onde hoje é o Carrefour)
Para atrair moradores, João Veríssimo ergueu um galpão próximo à avenida Engenheiro Roberto Freire, ainda apenas Estrada de Ponta Negra; sete anos depois, o galpão virou um ponto comercial do grupo Nordestão, com o nome de Hiperbox. Pouco tempo depois, tornou-se mais uma unidade do Supermercado Nordestão.
Quase toda a região no entorno de Mirassol ainda era um imenso matagal.
Quando construído e ocupado, o conjunto Mirassol estava fincado no limite sul de Lagoa Nova, hoje área nobre de Natal e que, na primeira metade do século passado, era apenas, como disse Itamar de Souza, na sua Nova História de Natal, “caminho de ligação entre o centro de Natal e a base aérea de Parnamirim Field”, estrada construída durante a segunda guerra mundial, quando a nossa cidade desempenhou importante papel naquela conflito bélico, a ponto de ser chamada de Trampolim da Vitória.
A ocupação do que viria a ser Lagoa Nova, bem como de várias regiões periféricas no caminho para Parnamirim, começou a ser potencializada com a instalação da base aérea norte-americana naquele distante distrito separado de Natal por imensos campos dunares. E foi por esse motivo que, em 30 de setembro de 1947, o prefeito Sylvio Pedroza assinou a Lei 251, criando o bairro Lagoa Nova, então terra distante, “longe de tudo”, como então se dizia.
A cidade, que antes da guerra parecia crescer em direção aos Guarapes, mudou a marcha expansionista em direção a zona sul e, diz Itamar de Souza, “onde anteriormente predominava a existência de granjas, sítios e casas de campo, foram construídos conjuntos habitacionais, o Estádio Castelão (depois Machadão), o Centro Administrativo do Estado, o Campus Universitário da UFRN, a CEASA, palácios e numerosas residências de elevado padrão”.
O campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que teve sua construção iniciada em 1972, pelo reitor Genário da Fonseca, e que começou a funcionar, em 1974, com as comunidades acadêmicas de humanidades e tecnologia, foi um marco da ocupação do bairro Lagoa Nova, gerando maior movimentação, com o deslocamento diário de alunos e funcionários daquela instituição de ensino superior, e valorizando os terrenos adjacentes, com a rápida expansão urbana para o sul da cidade, a difusão do hábito de morar em apartamento e a construção de conjuntos habitacionais, o que acarretou a acelerada valorização de terrenos urbanos em Natal. Conjuntos habitacionais pipocaram: além de Mirassol, Candelária, Conjunto Universitário, Flamboyants, Village dos Mares, Pirangi do Sul, etc (https://papocultura.com.br/bairro-lagoa-nova/).
O conjunto Mirassol começou a ser construído no início da década de 1970 e os primeiros moradores chegaram entre 1972-73, ainda antes da inauguração. O Conselho Comunitário, presidido por Paulo Viana Nunes, foi inaugurado somente em 13 de setembro de 1975. Era praticamente o fim da cidade (depois só havia Neópolis). Sair do centro da cidade para ir até lá, de ônibus, era uma viagem (viagem mesmo naquela época). Nas proximidades de onde hoje é o Complexo do Quarto Centenário, o ônibus da empresa Barros entrava pelo conjunto Potilândia e percorria todo o anel viário de pista simples da UFRN, calçada com paralelepípedo, sacolejando até entrar em Mirassol por uma abertura na rua das Tulipas, a cem metros donde hoje é o Bar do Thomas.
Jogar bola nos terrenos baldios, soltar pipa, brincar de polícia-ladrão e de garrafão, jogar biloca eram as diversões da meninada até que os campinhos foram sendo ocupados, ali pelos anos 1980, e as peladas transferidas para a quadra de esportes, inaugurada em 1982.
Desde meados da década de 1990, Mirassol, que ficava situado no bairro de Lagoa Nova, passou a integrar o bairro de Capim Macio, criado em 05 de abril de 1995, por meio da Lei 4.328, assinada pelo prefeito Aldo Tinoco.
O início da ocupação de Capim Macio ocorreu na década de 1940, quando parte de sua área foi utilizada como campo de treinamento do exército. Localizado as margens da atual avenida Engenheiro Roberto Freire, sua ocupação de maneira mais sistemática deu-se a partir dos anos 1970. Como fatores de sua formação destacam-se a construção do conjunto habitacional Mirassol e a criação e consolidação do Campus Universitário.
A toponímia está associada, segundo Itamar Souza, à “própria vegetação da planície onde se expandiu o casario do bairro”.