Não foi somente o Alecrim numerado
Sempre que o tema numeração das ruas do Alecrim é mencionado grande número de pessoas associam tal fato à presença dos norte-americanos em Natal, e isso não é verdade, com diz uma infinidade de estudiosos da história da cidade, a exemplo dos professores Itamar de Souza e Pedro de Lima. Escreverei detalhadamente sobre o assunto em outra oportunidade.
Não foi, porém, somente o Alecrim que teve suas avenidas e ruas numeradas. Duas avenidas do bairro da Cidade Nova (Petrópolis e Tirol), terceiro de Natal, também foram numeradas.
Na última década do século XIX, com o funcionamento da Great Western e com a abertura da estrada para Macaíba, na qual foram utilizados como mão-de-obra, segundo Itamar de Souza, em torno “de três mil flagelados da seca que estavam em Natal”, a cidade “aumentou sua função exportadora e (…) atraiu mais gente”, com parte se fixando no Alecrim, que veio a se tornar bairro em 1911, e o restante arranchando-se “na área hoje ocupada pelos bairros de Petrópolis e Tirol”, exigindo que o presidente da Intendência Municipal, Joaquim Manoel, editasse a Resolução nº 55, de 30 de dezembro de 1901, que definia o padrão de expansão urbana da provinciana Natal.
Coube ao agrimensor e engenheiro Antonio Polidrelli montar o plano de arruamento dos três bairros – Cidade Alta, Ribeira e Cidade Nova – enquadrando as ruas e avenidas dos dois primeiros às linhas traçados do terceiro.
A resolução nº 85 da Intendência Municipal, de 08 de outubro de 1903, citada por Itamar de Souza em sua Nova História de Natal, diz que a “área que constitui o bairro ‘Cidade Nova’ compreende oito avenidas (…), quatorze ruas (…) e duas praças” e que as avenidas, “a partir do poente nos limites da ‘Cidade Alta’ e ‘Ribeira’ denominar-se-ão: ‘Deodoro’, ‘Floriano’, ‘Prudente de Morais’, que a partir do ângulo noroeste da ‘Praça Pedro Velho’ tomará o nome ‘Alberto Maranhão’, ‘Campos Sales’, ‘Rodrigues Alves’, ‘Sétima’ e ‘Oitava’.” (grifos nossos)
O Plano da Cidade Nova (Plano Polidrelli), segundo o professor e urbanista Pedro de Lima, seguiu a tendência “de diversos planos elaborados para cidades nordestinas”, como Fortaleza, Teresina, Aracaju, e mesmo do centro-sul, como Belo Horizonte, tomando como padrão “a malha em formato de xadrez”, certamente por “este ser um conhecimento acessível” aos seus formuladores (Polidrelli e Jeremias Pinheiro da Câmara) e porque “prestava-se para ser utilizada na área onde a Cidade Nova foi localizada”, com terrenos relativamente planos e por ser praticamente desabitada.
Posteriormente, o Plano Geral de Sistematização de Natal, de 1929, tentou “contemplar o plano de reordenamento da cidade”, com a inclusão do “Plano da Cidade Nova e parte do atual Alecrim”, numa proposta de “construção de uma cidade-jardim e de um ‘bairro operário’”, que não chegou a ser finalizado e posto em prática.