Touros e o marco de posse

por Sérgio Trindade foi publicado em 16.jan.24

A missão de reconhecimento do litoral do Brasil, após o descobrimento, partiu de Lisboa no dia 14 de maio de 1501. Para sedimentar a posse, carregava alguns padrões de pedra.

Saindo do rio Tejo, tomou o rumo do sul, em direção às ilhas Canárias, território espanhol, para dali contornar a costa africana e aportar onde hoje é a cidade de Dakar, no Senegal, no dia 25 de maio.

No dia 5 de junho partiu para atravessar o Mar Oceano (Atlântico) em direção ao Brasil, viagem que durou 64 dias, atingindo a costa do atual Rio Grande do Norte no dia 7 de agosto de 1501. O florentino Américo Vespúcio estava na expedição, como cosmógrafo, descrevendo e relatando dados importantes da viagem e assim expõe o momento em que o marco de posse foi chantado na nova terra: “Tomamos posse dela em nome do Sereníssimo Rei”. Ressalte-se que as cartas de Américo Vespúcio a Lourenço de Medici (a Carta de Cabo Verde, a Carta de Lisboa e Mundus Novus) e a Pietro Soderini (Lettera) descrevem as suas aventuras de travessia do Atlântico e a chegada ao litoral do atual Rio Grande do Norte. Há divergência de datas. A Carta de Lisboa e Mundus Novus apontam 7 de agosto de 1501 como o dia em que a expedição chegou ao Rio Grande do Norte. A Lettera indica o dia como sendo 17 de agosto. Muito provavelmente, segundo Medeiros Filho, em Aconteceu na capitania do Rio Grande, a data provável da chegada dos portugueses ao Rio grande do Norte é 7 de agosto de 1501.

Câmara Cascudo, na sua excelente História do Rio Grande do Norte, assim descreve o fato: “Partindo, Gaspar de Lemos deixou um sinal de sua passagem como testemunha da posse del-rei de Portugal. Chantou um marco de pedra lioz, o mármore de Lisboa, tendo no primeiro terço a Cruz da Ordem de Cristo em relevo, e abaixo as armas do Rei de Portugal, cinco escudetes em cruz com cinco besantes em santor sem a bordadura dos castelos”.

No início da grande empresa marítima, os portugueses demarcavam e asseguravam a posse dos territórios descobertos com cruzes de madeira, sistema idêntico ao adotado pelos espanhóis. Somente em 1482, na embocadura do rio Congo (Zaire), foi que Diogo Cão mudou o padrão português, chantando o Padrão de São Jorge, o primeiro de pedra utilizado para demarcar a posse lusitana de terras no além-mar.

Câmara Cascudo e Nestor Lima viajaram, no dia 27 de agosto de 1928, em nome do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, à praia dos Marcos, então pertencente a Touros (hoje é área do município de São Miguel do Gostoso), para conhecer e identificar o Marco de Posse. Encontraram-no, segundo Jeanne Nesi, na sua Natal Monumental, a uma “distância de 200 ou 300 metros do local de sua primitiva chantadura”, movido que foi “do seu primitivo local (…), um cômoro de areia, por iniciativa de Félix Batista, morador na praia dos Marcos”.

Em 1962, o Marco de Touros foi considerado Monumento Nacional e tombado, mas somente 14 anos depois foi transferido para a Fortaleza dos Santos Reis, em Natal. Atualmente encontra-se no Museu Câmara Cascudo (https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2021/02/04/principal-monumento-historico-do-rn-marco-de-touros-e-transferido-do-forte-dos-reis-magos-para-museu.ghtml).

A chantadura do Marco de Touros abriu espaço para uma polêmica que nasceu e tomou forma no final do século XX, a saber, qual é o local exato do descobrimento do Brasil? A tese consagrada, e até aqui pouco questionada, é a de que o Brasil foi descoberto em Porto Seguro, na Bahia. Lenine Pinto, em Reinvenção do Descobrimento, confronta essa tese, argumentando que o descobrimento do Brasil não ocorreu na Bahia e, sim, no Rio Grande do Norte, assunto que já abordamos em outro texto (https://historianosdetalhes.com.br/historia-do-rn/o-brasil-nasceu-no-rio-grande-do-norte/).

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