A Espanha desafiou Portugal (1)

por Sérgio Trindade foi publicado em 27.nov.24

Ao longo do século XV, muito embora alguns estudiosos digam o contrário, a Espanha não ficou paralisada vendo Portugal estender seus domínios para o Atlântico.

Os reis Fernando e Isabel expulsaram os infiéis muçulmanos e pouco depois de os portugueses terem descoberto o Cabo das Tormentas, posteriormente rebatizado de Cabo da Boa Esperança, fizeram a Espanha entrar de vez na disputa oceânica., financiando um jovem navegante genovês chamado Cristóvão Colombo, marinheiro desde os 15 anos.

Acreditando ser possível chegar às Índias navegando sempre para o oeste, Colombo fez a viagem em três modestas embarcações e com uma tripulação de aventureiros, partindo do porto espanhol de Palos a 3 de agosto de 1492.

A viagem foi atribulada e difícil, até que finalmente, no dia 12 de outubro de 1492, avistou-se uma ilha, logo batizado de São Salvador.

Pensando ter chegado às Índias, os nativos passaram a ser chamados índios. Somente quando os portugueses “chegaram por mar à verdadeira Índia, e pelo exame dos últimos confins dela conheceram que era a mesma a que os viajantes tinham chegado por terra, antes de existir aberta a cincunavegação da África, foi que todos reconheceram com maior evidência o engano de Colombo; e Castela, para não se dar por enganada, começou a chamar às suas conquistas – Índias Ocidentais”.

Cristóvão Colombo era uma figura controvertida, um homem que resistiu de forma corajosa e resoluta, segundo Varnhagen, “aos obstáculos que se lhe levantaram, e aos muitos desdéns com que foram escutados os seus projetos”, originalmente levados ao “rei D. João II, o qual se dignou a responder-lhe, convidando-o, com um salvo-conduto, do próprio punho, para vir à sua presença, em data de 20 de Março de 1488”. Os projetos de Colombo foram rejeitados em Portugal e aceitos, posteriormente, na Espanha, “a cujo serviço navegando com três pequenas caravelas, com a proa no ocidente, veio a encontrar a Guanahani e outras olhas, das chamadas hoje Antilhas, que tomou pela extrema oriental da Ásia, na qual ainda se imaginava quando, mais tarde, abordou ao Continente”.

Ainda que calcado num mundo racional, no qual as descobertas e os engenhos humanos eram movidos pela força do intelecto e, portanto, desapegados das injunções divinas e sobrenaturais, Colombo acreditava na existência de um paraíso terreal, como é possível verificar em carta enviada aos reis católicos, Fernando e Isabel:

“A Sagrada Escritura atesta que Nosso Senhor criou o Paraíso terrestre, nele colocando a árvore da vida, e de onde brota uma fonte de que resultam os quatro maiores rios deste mundo: o Ganges, na Índia; o Tigre e o Eufrates, que separam a serra, dividem a Mesopotâmia e vão desembocar na Pérsia; e o Nilo, que nasce na Etiópia e acaba no mar, em Alexandria.

E não encontro nem jamais encontrei nenhuma escritura de latinos ou gregos que indique, com segurança, o lugar em que se situa neste mundo o Paraíso terrestre; nem tampouco vi em nenhum mapa-múndi, a não ser localizado com autoridade de argumento. Alguns o colocavam ali onde ficam as fontes do Nilo, na Etiópia; mas outros percorreram todas essas terras e não encontraram nenhuma correspondência na temperatura do ar, na altura até o céu, pela qual se pudesse compreender que era ali, nem que as águas do dilúvio houvessem chegado até lá, as quais tudo cobriram, etc. Alguns infiéis tentaram provar, com argumentos, que ficava nas ilhas Fortunatas, ou seja, as Canárias.

Creio que, se eu passasse abaixo da linha equinocial, ao chegar lá, na parte mais alta, encontraria temperatura muito maior e diferença nas estrelas e nas águas; não porque creia que ali onde a altura seja máxima seja também navegável ou haja água, nem que se possa subir até lá, mas porque creio que ali é o Paraíso terrestre, aonde ninguém consegue chegar, a não ser pela vontade divina”.

O genovês empreendeu ainda outras quatro viagens ao Novo Continente.

Morreu, em 1506, pobre e esquecido vítima da inveja, das intrigas e das injustiças dos poderosos da época, acreditando que as terras que às quais chegara faziam parte das Índias, muito embora sua tese tenha ruído antes de sua morte, quando o florentino Américo Vespúcio demonstrou que as terras descobertas pelo gênio genovês formavam um novo continente.

Em homenagem à constatação do florentino Américo Vespúcio, a região passou a se chamar América.

O feito de Colombo gerou sérios atritos entre Espanha e Portugal, então maior potência marítima e pioneira na navegação em mar aberto, obrigando a Igreja Católica a intervir para evitar que o conflito descambasse para algo mais sério.

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