Ave, Moro!
Já ouvi e li muito sobre as ações do juiz Sérgio Moro à frente da Lava Jato. O mundo político, em xeque, acusa o juiz de atrabiliário, de estrelismo, etc, etc, e etc.
Petistas o acusavam de persegui-los, deixando outros partidos, especialmente o PSDB, na sombra e à salvo dos tentáculos da maior operação de caça aos corruptos da história.
Hoje, quase todos de quase todos os partidos estão expostos, e correm no afã de encontrar alguma guarida em propostas de anistia que os salvem.
Vez por outra políticos, intelectuais engajados, jornalistas e blogueiros assacam contra a honra de Moro. N’O poder em cena, George Balandier explica que o poder político é uma teatrocracia, com palco e camarins. Sendo assim, o poder é exercido com forte carga dramática. Todos os políticos são atores e dão forma e vida a um espetáculo.
Regime político algum consegue se manter se trouxer o ocorrido nos camarins para o palco. Logo, todos os regimes vão se apresentar como aquilo que não são na essência, pois é do jogo da política com sua carga dramática, da teatralização, para usar o termo de Balandier, uma encenação que mostra o poder com uma aparência distinta de sua essência.
Quem já viu ou estuda sabe que os palanques (palco) da politica não exprimem os bastidores (camarins) dela.
No mundo atual, com a difusão e a popularização dos meios de comunicação e dos mecanismos de sistemas de informação, os camarins invadiram o palco, deixando expostas as vísceras dos acordos e dos conchavos legítimos mas também dos acertos escusos, das tramoias ladroeiras.
A cada semana testemunhamos Lulas, Temeres, Aécios, Gedeis e outros tantos personagens dos palcos tendo expostos os seus camarins.
Filmagens e gravações pulam dos camarins e mostram que a distância entra a aparência e a essência da politica brasileira chega às raias da incivilidade.
Mas o que isso tem a ver com Moro?
Ora, é estranho é que, nesta época de vísceras à mostra, só apareçam do juiz uma ou outra foto dele em eventos em que há políticos acusados de corrupção ou leviandades soltas em blogs que são verdadeiros como uma nota de 3 reais.
Se essência e aparência, no teatro da politica, são coisas diferentes, a civilização trata de aproximá-las.
Entre a barbárie da vida pública brasileira e o comedimento do juiz da Lava Jato, cravo meu voto no segundo.
Por Sérgio Trindade