Da eleição à ruptura institucional
O ano eleitoral de 2014 e o que se seguiu a ele foi definidor do que o Brasil vive hoje.
A eleição daquele ano decorreu em clima de chutes na canela (1º turno) e de radicalização (2º turno).
Na primeira rodada, quando ameaçada pelo crescimento de Marina Silva, o staff da candidata Dilma Rousseff apelou e apresentou a adversária como uma malvada que ia tirar comida da mesa dos brasileiros pobres; uma mentira assombrosa que minou qualquer chance de vitória da ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula.
Quando ficaram somente Dilma e Aécio Neves, a campanha adquiriu ares surreais. Repartições públicas foram quase que transformadas em comitês de campanha da candidata do PT. Rousselffies foram tirados em série no interior ou nas imediações de instituições federais. associando a candidata petista aos órgãos federais.
Derrotado, Aécio Neves não soube se comportar como um líder político de envergadura (coisa que ele nunca foi mesmo) e partiu para contestar a vitória da adversária.
Empossada e diente de que o prometido na campanha não poderia ser entregue, Dilma abandonou a plataforma eleitoral e partiu para tentar fazer os ajustes que ela negara serem necessários durante toda a peleja eleitoral.
A oposição acusou-a de estelionato eleitoral e daí pra frente a presidente revelou-se: uma fraude política, administrativa… Em suma: o poste que de fato era, e nunca a gerente especialista em quase tudo.
A possibilidade de impedimento da presidente começou a ser namorado pela oposição, PSDB à frente. Mas tudo caminhava em banho-maria até a própria presidente alertar que não admitiria um processo de impeachment.
A fala presidencial pôs o carro do impeachment na rua (abrir processos de impeachment sempre foi diversão no Brasil, desde Collor) https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/apos-collor-pais-teve-61-tentativas-de-destituir-presidentes-egigvz3kbwr6l9djt4o9i0ifi/ e derrubou a presidente.
Reafirmo o que disse em outros textos aqui escritos: o impeachment ajudou a livrar a cara de Dilma e do PT, pondo a falência em que o Brasil se encontra na conta do ex-vice-presidente de Dilma, Michel Temer.
Temer foi, não resta dúvida, sócio majoritário do desastre político brasileiro antes de assumir como presidente, afinal era companheiro de chapa de Dilma, indicado pelo PMDB (hoje MDB), sócio nos traquinagens políticas e administrativas do PT.
O fato é que uma parcela da população assim não visualiza e acusa o governo Temer de único culpado pela crise em que vivemos.
Em momentos de crise, soluções extremas quase sempre apresentam-se como opções razoáveis. E é aí que mora o perigo, pois os candidatos que começam a se apresentar como viáveis eleitoralmente negam a normalidade institucional.
Desde o início o PT, hoje com Fernando Haddad na cabeça de capa, alega que “Eleição sem Lula é fraude”. A turma que segue Bolsonaro diz abertamente não confiar na lisura do pleito.
O vice de um dos candidatos acena com a possibilidade de uma Constituinte de notáveis, sem que o povo seja consultado. O chefe de campanha de outro está encarcerado e dirige a estratégia do candidato de uma cela de prisão.
O que esperar dos dias que se seguirem ao pleito? Qual será o destino do Brasil?
Ou as lideranças políticas brasileiras criam juízo ou caminhamos para um quadro de ruptura institucional.
Por Sérgio Trindade