De mentira a verdade

por Sérgio Trindade foi publicado em 15.fev.23

De mentira em mentira uma “verdade” se estabelece, ensinou o ministro da propaganda do 3º Reich, Joseph Goebbels.

Dizia Goebbels que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Esta frase marcou um momento histórico em que a verdade foi construída sob farsas e alegações mentirosas com o objetivo de legitimar o governo totalitário de Adolf Hitler, que tinha nas mãos o poder da comunicação, pois dominava a imprensa, o rádio, o cinema… em suma, os veículos de comunicação que tinham forte penetração na sociedade.

Era por meio deles que as mensagens de interesse governista se difundiam por todos os recantos da Alemanha, gerando forte sentimento de unidade e poder.

O limite entre verdade e mentira tem se tornado cada vez mais tênue. Alguém (não se sabe quem, tendo em vista a frase ser atribuída a muita gente) já disse que “na guerra a primeira vítima é a verdade”. E nós, aqui no Brasil, estamos num ambiente de conflagração política sem tamanho. Uma guerra civil sem o uso de armas de fogo.

A mentira não é uma invenção; ela nega a verdade propositalmente, com o intuito de recrutar consciências, submetendo-as e deteriorando a capacidade que as pessoas têm de pensar.

Quando desmascarado, o mentiroso mantém a mentira. No entanto, se ela é descoberta e fica inviável mantê-la, a organização defensiva orquestrada pelo mentiroso e pelos seus aliados se desarticula e, então, todos os dejetos psicóticos vêm à tona com violência, por vezes incontida. Qualquer questionamento, mesmo lastreado em dados e com argumentação sólida, é transformado em traição e quem os veicula passa a ser ameaçado, quando não prejudicado.

Imagem da internet

Acompanhamos isso no Brasil há uns bons anos e de maneira muito forte nos últimos dez anos.

Há pouco tempo, o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados eram acusados, com razão, de difundir notícias falsas.

Nos dias que seguem, o atual presidente Lula, desfia um rosário de notícias falsas e o silêncio de seus acólitos é a tônica. Dois pesos e duas medidas.

Notícia falsa é notícia falsa, dita por Lula ou por Bolsonaro ou por Zezinho da esquina.

Não escrevo sobre Bolsonaro porque o considero – e isso é uma opinião inteiramente pessoal – um dos maiores erros que a nação cometeu. Paciência, cometeu e pague por isso. Que as instituições cuidem dele, respeitando os direitos que tem como cidadão.

O presidente da vez é Lula e é dele que temos de cobrar. Inclusive o respeito às instituições, afinal ele carrega consigo o passado de constituinte e de ex-presidente da república e ocupa hoje a suprema magistratura da nação. Se não respeita as instituições, se anda falando asneira e dizendo galhofas e/ou bazófias que maculam as instituições, que seja interpelado pelos dirigentes dos poderes da república e pela mídia.

Se Lula fosse apenas um dirigente partidário, dizer que o impeachment de Dilma foi golpe de Estado soaria estanho, mas não teria o impacto que tem quando a fala sai da boca dele como presidente da república.

Ele pode, como integrante do PT, conversar sobre isso nos convescotes do partido, porém não é adequado, para dizer o mínimo, um chefe de governo e de Estado dizer que o rito que afastou Dilma da presidência, conduzido pelo legislativo sob supervisão do judiciário, foi golpe de Estado. Por uma razão simples: é mentira. E afronta as instituições.

Em evento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lula afirmou que a quebradeira do dia 8 de janeiro representou “a revolta dos ricos que perderam a eleição”. Achou pouco e completou com outra pérola: o calote das ditaduras cubana e venezuelana aconteceram porque  Bolsonaro cortou relações com ambos os regimes. Duas mentiras ditas num discurso de alguns poucos minutos.

Lula mente para, como de hábito, alimentar a dicotomia barata e a polarização que fazia militantes do partido vaiarem membros de outras agremiações partidárias presentes nos comícios das diretas, incentiva o mesmo discurso raivoso e divisionista que fez o partido rejeitar a Constituição que alguns de seus membros ajudaram a elaborar, repete mantras que fizeram o partido virar às costas para o plano real e por aí vai.

A postura de Lula é, convenhamos, a de um caudilho. E tem sido fiel à sua natureza política, pois adota a estratégia que até hoje funcionou e lhe rendeu os frutos que continua a colher no pomar da vida pública nacional.

Se assim é, por qual razão mudaria? Por que mexer em time que está ganhando?

Lula e o PT ganham mantendo a polarização política nas ruas. O presidente costura moderadamente nos bastidores, atendendo à sanha clientelista das bancadas no congresso nacional, e permanece incendiário nos palanques. Ele e o PT sempre foram assim, quando ganharam e quando perderam.

Ou esquecemos todos que, quando derrotados, iam imediatamente pedir o impeachment de quem venceu, alegando que sofreram golpe ou por meio de qualquer outra narrativa?

De tanto tripudiarem da democracia, cevaram um boçal, tão catastrófico que abriu a porta do palácio para que ele, Lula, pudesse voltar à presidência.

Lula e o PT simbolizam, há mais de três décadas, um dos atoleiros que condicionam o atraso do país. Com suas mentiras constroem narrativas transformadas em verdades aparentes, atropelando a todos que se põem no caminho.

Após um período turbulento e uma campanha perniciosa, na hora de juntar os cacos o atual presidente, mentindo, investe uma vez mais na fratura.

O discurso da união nacional, do amor e de todas as platitudes ditas durante a campanha presidencial foram eficazes porque o principal adversário, mais do que Lula, dividiu a sociedade numa intensidade sem precedentes.

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