Os candidatos e seus adversários

por Sérgio Trindade foi publicado em 08.ago.22

Ontem (domingo), 07/08, foi dia de debate, na Band, entre os candidatos a governadores dos estados.

A emissora paulista e suas afiliadas tomaram a dianteira e confirmaram a tradição de iniciarem os debates entre os candidatos a cargos majoritários.

Mantive-me à frente da TV por quase todo o tempo do debate (2h) entre Fátima Bezerra, Fábio Dantas, Styvenson Valentim, Danniel Moares e Clorisa Linhares, quatro pleiteantes ao cargo e uma, Fátima Bezerra, que pretende renovar o mandato que lhe foi entregue pelo povo potiguar, em 2018 (https://www.band.uol.com.br/eleicoes/noticias/ao-vivo-assista-ao-debate-dos-candidatos-a-governador-do-rn-no-primeiro-turno-16526791).

Debate na Band (foto de Thaísa Galvão)

Os candidatos, por ora, quase não se mostraram adversários entre si. Afiaram as lâminas das espadas, mas preferiram não esgrimir um contra o outro. Escolheram, na noite de ontem, torturar cruelmente a língua portuguesa, então a maior adversária dos cinco candidatos. O que menos trocou farpas com ela foi o ex-governador Fábio Dantas.

Vencido o obstáculo da fala, os quatro governadoráveis e a candidata a renovar o mandato poderão dizer, nos debates seguintes, algo sobre as propostas que têm para comandar os destinos o Rio Grande do Norte.

Esquecendo o problema que os candidatos tiveram com o idioma de Camões, foi possível constatar que três deles (Clorisa, Fábio e Styvenson) se associaram para bater na governadora Fátima Bezerra.

A lógica parece correta, por dois motivos: os três têm alguma afinidade ideológica e, mais do que isso, precisam impedir a vitória da governadora no primeiro turno, logo fustigar Fátima é caminho para fazê-la cair nas pesquisas. Afastada as chances de a petista vencer o jogo no primeiro turno, os dois, Fábio e Styvenson (Clorisa não parece disputar a sério), vão partir para o confronto entre eles, para saber quem seguirá rumo ao segundo turno com a atual governadora. Faço aqui uma observação: intuo que ocorrerá algo parecido na eleição presidencial, com muitos batendo inicialmente em Lula para inviabilizar a vitória do petista no primeiro turno.

Fábio Dantas é, do ponto de vista intelectual e em termos de conhecimento do funcionamento da máquina pública, o candidato mais preparado para confrontar Fátima Bezerra num hipotético segundo turno. Carrega, porém, um fardo imenso e pesado: foi companheiro de jornada de Robinson Farias, provavelmente o governador mais mal avaliado da recente história potiguar. Por mais que Fábio consiga neutralizar a peçonha desse seu passado político próximo (e o fez razoavelmente ontem), se ele se apresentar como candidato eleitoralmente viável no primeiro turno e chegar ao segundo turno, será certamente atingindo por ela e só retórica não será suficiente para blindá-lo.

Styvenson Valentin está na corrida eleitoral como melé solto. Vencendo a corrida eleitoral assume o mandato de governador; derrotado, permanece no senado por mais quatro anos. Pelo meio do caminho haverá corrida para sentar na principal cadeira do Palácio Felipe Camarão e, a depender do seu desempenho este ano no colégio eleitoral de Natal, será competitivo em 2024, também como melé solto, tendo em vista que o seu mandato senatorial só expira em março de 2027.

O atual senador é, suponho, o candidato de oposição mais viável eleitoralmente, pois ainda pode, apesar de a conjuntura ser diferente da de 2018, apresentar-se com outsider, carregando nas tintas de liderança antissistema. O caminho é acidentado, mas pode ser trafegável, a depender do humor do eleitor, da rejeição a Fátima Bezerra e principalmente da capacidade de comunicação do capitão da polícia militar.

Por mais que seja possível colar em Styvenson a marca de homem da política, negando a imagem de outsider, é possível contornar o problema mostrando que o senador ocupa posição no legislativo, fração do poder que pode menos do que o executivo, e que lá, no legislativo, desempenhou a contento suas atribuições. Uma vez mais, caberá à sua assessoria de comunicação fazer bem o dever de casa.

A corrida eleitoral começou para valer, após o debate de ontem, no Rio Grande do Norte. E há indícios de que poderá ser bem aquecida.

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