Natal, o bairro-operário e o bairro-jardim (1)
Ex-aluno de engenharia do Illinois Institute of Technology, Omar O’Grady trabalhou por dois anos nos Estados Unidos e, em 1920, retornou ao Brasil, para trabalhar na Inspeção Federal de Obras, atual Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), e para Natal, em 1924, onde inicialmente trabalhou com seu sogro, Manoel Dantas, então Intendente Municipal e posteriormente sucedendo-o, no mesmo ano, após o falecimento do ilustre seridoense multifacetado (jornalista, fotógrafo, escritor, etc).
Sentado na cadeira de prefeito, Omar O’Grady iniciou amplo processo de modernização da cidade, pavimentando ruas, embelezando praças e rasgando ruas e avenidas, com a implementação, de acordo com o professor Pedro de Lima, do Plano da Cidade Nova.
Mas foi a elaboração do Plano Geral de Sistematização de Natal (plano urbanístico) a sua principal obra, cujo objetivo era estruturar a capital do estado para acomodar uma população de cem mil habitantes, conforme registra o professor João Maurício Fernandes Miranda, em sua obra 380 anos de história fotográfica da cidade de Natal – 1599-1979.
O Plano Geral de Sistematização de Natal, elaborado pelo arquiteto Giacomo Palumbo, constaria, registra o professor João Maurício, de uma planta do projeto da cidade, em escala 1:1000 e perfis transversais em escala 1:1000 de todas as ruas e avenidas consideradas no projeto. Segundo João Maurício, a planta geral do projeto abrangia “toda a área limitada ao norte pelo projeto da cidade recreio no local denominada de ‘Limpa’; à leste pelo oceano Atlântico, desde o forte dos Reis Magos até a praia de Areia Preta; ao sul pela avenida 16 e seu prolongamento até o rio Potengi; à oeste pelo rio Potengi, desde o prolongamento da avenida 16 até o forte dos reis Magos”. Seria o arremate da administração do prefeito reconduzido ao cargo, no início de 1929, pelo governador Juvenal Lamartine, tendo em vista a modernização de Natal.
Até as décadas de 1920-30, o crescimento de Natal não mudara muito. Permanecia lento, como havia sido no início do século. Somente dois bairros eram densamente ocupados: Cidade Alta e Ribeira. Alecrim e Cidade Nova (Tirol e Petrópolis) ainda não tinham decolado. O Alecrim era, segundo o professor Pedro de Lima, “habitado principalmente por pequenos comerciantes, trabalhadores, sitiantes e pela população pobre” e a Cidade Nova, a despeito da instalação de linhas de bondes e pavimentação de ruas, não conseguira ainda atrair de maneira significativa potenciais moradores. A margem esquerda do rio Potengi (atual zona norte) permanecia praticamente desabitada, só o sendo em maior escala após a construção da ponte sobre o rio, quando se iniciou a “formação do assentamento de Igapó”.
O Plano Geral de Sistematização de Natal propunha o reordenamento da “cidade já consolidada, incluindo o Plano da Cidade Nova e parte do atual Alecrim”, e a construção “de uma cidade-jardim e de um ‘bairro-operário’”, mas nunca chegou a ser totalmente implantado, possivelmente porque os mandatos do governador Juvenal Lamartine e do prefeito Omar O’Grady foram abreviados pelo movimento revolucionário de 1930.
Como o Plano Palumbo não foi, de acordo com o Pedro de Lima, implementado em sua totalidade, exceto “alguns poucos aspectos (…), principalmente na parte referente à incorporação e ampliação do desenho de Polidrelli” e “as obras de abertura, alargamento e calçamento de ruas, avenidas e praças e estradas de rodagem”, como a pavimentação e embelezamento das avenidas Junqueira Aires (hoje Câmara Cascudo) e Atlântica (atual Getúlio Vargas) e a “abertura de vias, articulando os diversos bairros, criando acessos à Cidade Nova, contribuindo para a sua consolidação, e às praias”, alguns ajustes foram feitos por Planos posteriores, como o Plano de Expansão de Natal, de 1935, no qual é possível perceber a localização do parque da cidade-jardim, como veremos em outro texto.