Angico 1938 (2)

por Sérgio Trindade foi publicado em 18.jul.24

Comecemos analisando algumas das mais famosas teses acerca da morte de Lampião pela tese da não morte, ou seja, pela tese que contesta a morte do rei do cangaço em 1938 (semana passada escrevemos sobre a bibliografia primordial que aborda as teses sobre o que ocorreu em Angico, Poço Redondo, estado de Sergipe, https://historianosdetalhes.com.br/cangaco/angico-1938-1/).

Segundo este percurso, exposto no livro Lampião, o invencível – duas vidas e duas mortes, do fotógrafo José Geraldo Aguiar, lançado em 2009, um aficionado pelo cangaço e que teve, como é possível perceber pela leitura do livro, acesso a depoimentos de personagens que conviveram com o famoso cangaceiro em Minas Gerais, para onde ele fugiu, depois de 1938, seguindo a rota Paulo Afonso (BA), norte de Minas Gerais (Manga, Itacarambi, Missões, Januária (Brejo do Amparo, São Joaquim e Tijuco), Pedras de Maria da Cruz, Matias Cardoso, Burarama (atualmente Capitão Enéas), Arinos, Urucuia, São Francisco e  Buritis, Lampião morreu em Minas Gerais, em 1993.

Entre os personagens conhecidos, conforme diz o autor, está o próprio Lampião, o qual não teria morrido em Angico. Em entrevista concedida a um portal, em 2009, Aguiar diz que Lampião saiu de Angico e “procurou um porto seguro no Piauí, o único estado que ele nunca havia atacado. Lá, ele viveu por alguns anos, depois passou a residir na Bahia e, gradativamente, veio descendo pelas bordas do Rio São Francisco, até chegar em Minas Gerais. Aqui, ele esteve em inúmeras cidades, sendo Manga a primeira delas, onde teve seu filho primogênito”. Para comprovar o que diz, ele pediu a exumação do corpo do homem morto em Minas Gerais e que pela insistência em desvendar o mistério foi “ameaçado de morte. Recebi um recado de que, caso eu lançasse o livro, alguém me mataria aqui em São Francisco. Inclusive, nunca disse nada a ninguém a respeito dessa ameaça, estou revelando de forma inédita a vocês” (https://www.hojeemdia.com.br/jose-geraldo-aguiar-recebi-um-recado-de-que-caso-eu-lancasse-o-livro-alguem-me-mataria-1.513376).

Ainda que análises pontuais apontem argumentos consistentes no texto, a bibliografia mais gabaritada sobre o assunto, a saber, a morte de Lampião, e os documentos e depoimentos de quem esteve no cenário da carnificina apontam apenas para um caminho: Lampião morreu em 28 de julho de 1938, em Angico [apresentaremos nos textos posteriores se envenenado (hipótese fraca) ou alvejado por tiro(s)].

Entre as testemunhas elencadas por José Geraldo Aguiar não há uma única que esteve com Lampião dos tempos do cangaço. Todas só o conheceram quando o cangaceiro mineirou, já com o novo nome, João Teixeira Lima (chegou a utilizar diversos nomes Antônio Teixeira Lima, José Pereira, João Baiano, João Pernambucano, João Bogó, João Mangabeira, Policarpo Lima, Antônio Luiz de Lima, Luiz Antônio de Lima, entre outros). E é ele, o Lampião das Alterosas, a principal testemunha de que ele é o Lampião nascido no sertão de Pernambuco. Detalhe: um Lampião curado do leucoma característico de seu olho direito, além da gritante diferença de personalidade dos dois.

Em Lampião, o invencível – duas vidas e duas mortes está exposto que coube ao cangaceiro Zé do Sapo a missão de substituir o maioral do cangaço na grota de Angico, em 1938, e que cada um dos soldados cumpriu fielmente o estabelecido, a saber, não dizer, sob o risco de morte, nada sobre a farsa armada. Como se fosse possível soldados indisciplinados de três volantes. Ademais, não há registro algum de cangaceiro com alcunha de Zé do Sapo.

Os cangaceiros sobreviventes, entre os quais o casal Zé Sereno e Sila, foram unânimes em dizer que Lampião morreu no início do tiroteio e Pedro de Cândido (e alguns soldados das volantes), o coiteiro que deu abrigo ao rei do cangaço naqueles dias, reconheceu o corpo dele e de Maria Bonita.

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