Angico 1938 (2)
Comecemos analisando algumas das mais famosas teses acerca da morte de Lampião pela tese da não morte, ou seja, pela tese que contesta a morte do rei do cangaço em 1938 (semana passada escrevemos sobre a bibliografia primordial que aborda as teses sobre o que ocorreu em Angico, Poço Redondo, estado de Sergipe, https://historianosdetalhes.com.br/cangaco/angico-1938-1/).
Segundo este percurso, exposto no livro Lampião, o invencível – duas vidas e duas mortes, do fotógrafo José Geraldo Aguiar, lançado em 2009, um aficionado pelo cangaço e que teve, como é possível perceber pela leitura do livro, acesso a depoimentos de personagens que conviveram com o famoso cangaceiro em Minas Gerais, para onde ele fugiu, depois de 1938, seguindo a rota Paulo Afonso (BA), norte de Minas Gerais (Manga, Itacarambi, Missões, Januária (Brejo do Amparo, São Joaquim e Tijuco), Pedras de Maria da Cruz, Matias Cardoso, Burarama (atualmente Capitão Enéas), Arinos, Urucuia, São Francisco e Buritis, Lampião morreu em Minas Gerais, em 1993.
Entre os personagens conhecidos, conforme diz o autor, está o próprio Lampião, o qual não teria morrido em Angico. Em entrevista concedida a um portal, em 2009, Aguiar diz que Lampião saiu de Angico e “procurou um porto seguro no Piauí, o único estado que ele nunca havia atacado. Lá, ele viveu por alguns anos, depois passou a residir na Bahia e, gradativamente, veio descendo pelas bordas do Rio São Francisco, até chegar em Minas Gerais. Aqui, ele esteve em inúmeras cidades, sendo Manga a primeira delas, onde teve seu filho primogênito”. Para comprovar o que diz, ele pediu a exumação do corpo do homem morto em Minas Gerais e que pela insistência em desvendar o mistério foi “ameaçado de morte. Recebi um recado de que, caso eu lançasse o livro, alguém me mataria aqui em São Francisco. Inclusive, nunca disse nada a ninguém a respeito dessa ameaça, estou revelando de forma inédita a vocês” (https://www.hojeemdia.com.br/jose-geraldo-aguiar-recebi-um-recado-de-que-caso-eu-lancasse-o-livro-alguem-me-mataria-1.513376).
Ainda que análises pontuais apontem argumentos consistentes no texto, a bibliografia mais gabaritada sobre o assunto, a saber, a morte de Lampião, e os documentos e depoimentos de quem esteve no cenário da carnificina apontam apenas para um caminho: Lampião morreu em 28 de julho de 1938, em Angico [apresentaremos nos textos posteriores se envenenado (hipótese fraca) ou alvejado por tiro(s)].
Entre as testemunhas elencadas por José Geraldo Aguiar não há uma única que esteve com Lampião dos tempos do cangaço. Todas só o conheceram quando o cangaceiro mineirou, já com o novo nome, João Teixeira Lima (chegou a utilizar diversos nomes Antônio Teixeira Lima, José Pereira, João Baiano, João Pernambucano, João Bogó, João Mangabeira, Policarpo Lima, Antônio Luiz de Lima, Luiz Antônio de Lima, entre outros). E é ele, o Lampião das Alterosas, a principal testemunha de que ele é o Lampião nascido no sertão de Pernambuco. Detalhe: um Lampião curado do leucoma característico de seu olho direito, além da gritante diferença de personalidade dos dois.
Em Lampião, o invencível – duas vidas e duas mortes está exposto que coube ao cangaceiro Zé do Sapo a missão de substituir o maioral do cangaço na grota de Angico, em 1938, e que cada um dos soldados cumpriu fielmente o estabelecido, a saber, não dizer, sob o risco de morte, nada sobre a farsa armada. Como se fosse possível soldados indisciplinados de três volantes. Ademais, não há registro algum de cangaceiro com alcunha de Zé do Sapo.
Os cangaceiros sobreviventes, entre os quais o casal Zé Sereno e Sila, foram unânimes em dizer que Lampião morreu no início do tiroteio e Pedro de Cândido (e alguns soldados das volantes), o coiteiro que deu abrigo ao rei do cangaço naqueles dias, reconheceu o corpo dele e de Maria Bonita.