Eu fui a Harvard

por Sérgio Trindade foi publicado em 07.dez.20

Estudar no exterior é um sonho de muitos brasileiros. Quase estudar no exterior tem sido uma realidade cada vez maior para muitos mais – quase uma mentira. E ser professor no exterior, uma mentira repetida mil vezes.

O ministro do meio ambiente Ricardo Sales é um dos muitos sonhadores que não realizaram o sonho, mas o propaga como se verdade fosse.

Ele chegou a escrever textos nos quais aparecia como mestre em direito público pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, um centro de excelência entre as ótimas universidades dos Estados Unidos.

Mas dez entre dez brasileiros parecem ter fixação por Harvard.

Qualquer um que vá àquela universidade norte-americana fazer um curso de 20 horas ou uma fala de 30 minutos apresenta-se como aluno ou professor de Harvard.

Em seguida escreverá no Currículo Lattes, de forma estrelada, a indicação da passagem pela prestigiosa e prestigiada universidade. Quase sempre com informações potencializadas ou potencializadoras.

Ciro Gomes foi um dos poucos que não aumentou a sua passagem por Harvard.

Um ou outro jornalista tentou desmerecer a estadia dele por lá.

Ciro Gomes candidatou-se a visiting scholar (pesquisador visitante) na Faculdade de Direito e fellow (associado) do Centro Para Assuntos Internacionais (CFIA), tendo sido aceito para ambas. Optou por ser visiting scholar na Faculdade de Direito, uma posição destinada cada ano a um pequeno número de pessoas, vindas de todo o mundo e que pretendem desenvolver na universidade seus próprios projetos de pesquisa.

O ex-governador do Ceará e ex-ministro participou ativamente da vida intelectual da universidade, frequentou seminários e debateu ideias com alguns professores e até com políticos brasileiros que participaram de seminários.

Outros, antes e depois dele, foram à universidade como peixes ornamentais e propagandearam ser tubarões.

Um papa-jerimum tentou tripudiar de um de nossos mais conceituados jornalistas abanando o currículo para justificar um erro, digamos, científico. Exigiu – e teve – o direito, concedido pelo próprio jornalista titular de uma das colunas mais lidas do estado, a demonstrar que a publicação escrita sobre ele cometera erro grosseiro. Gastou parte do espaço a que teve direito desfilando o currículo e lá constava uma passagem por Harvard. Não lembro exatamente o que fez na universidade norte-americana o bambambam da ciência, mas lembro, em detalhes, a vergonha que passou por aqui.

Um caso que ganhou grande repercussão foi o da professora de ensino técnico Joana D’Arc Félix de Sousa, que apresentou diploma falso de pós-doutorado da universidade localizada no estado de Massachusetts.

Outro caso rumoroso é o do ex-BBB e ex-deputado federal Jean Wyllys, que fez uma residência em Harvard, onde pesquisou, no Instituto de Pesquisa Afro-Latinoamericanos, em parceria com a Open Society Foundation, organização fundada por George Soros, sobre a ligação entre notícias falsas e discursos de ódio contra minorias. A residência teria duração de um semestre.

No site da Universidade de Harvard (https://gsas.harvard.edu/programs-study/non-degree-programs?fbclid=IwAR2Lm8vaclY0I-keZ1uvRC_S0v8OkFuzx5OB74btPd7ac9gYsE6daCdRK2E) está registrado que o ex-parlamentar foi visinting fellow, ou seja, associado ou pesquisador ou bolsista do Afro Latin American Research Institute at the Hutchins Center, podendo até dar aulas sobre o assunto.

O cargo de visiting fellow não é propriamente o de professor, como correu e ainda corre na mídia brasileira e nas redes sociais, desde que o ex-deputado psolista “pousou” em Harvard.

A rigor, o visiting fellow é um cargo temporário ocupado por profissionais, do ensino ou não, reconhecidamente competentes e prestigiados num dado ramo do conhecimento e que visitam a universidade para desenvolver pesquisas ou participar de eventos específicos (https://gsas.harvard.edu/programs-study/non-degree-programs?fbclid=IwAR2Lm8vaclY0I-keZ1uvRC_S0v8OkFuzx5OB74btPd7ac9gYsE6daCdRK2E).

É cedo, ainda, para dizer a que veio Jean Wyllys em Harvard. Mas é certo que ele não será professor da universidade.

Uma coisa é certa: adoramos maldizer os States e adoramos adorar as suas universidades, o seu estilo de vida, a sua riqueza…

Lembro do indefectível Roberto Campos: “É muito divertida a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram três coisas que só o capitalismo sabe dar: bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês. São filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola.”

Em tempo: Jean Wyllys não é artista, nem intelectual… Foi Big Brother.

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