Não julguem Juliana
Acompanhei, com interesse, a aventura/desventura da jovem brasileira Juliana Marins, morta numa montanha da Indonésia.
Lendo em jornais, revistas e portais de notícias e assistindo nas TVs o infortúnio da jovem de Niteroi, cheguei a ficar meio deprimido, ao ler e ouvir comentários depreciativos e alguns desprezíveis acerca do ocorrido, até que li o post de Dani Filgueira, minha ex-aluna no então Complexo Educacional Henrique Castriciano (atual Complexo de Ensino Noilde Ramalho), o qual reproduzo abaixo:
“Não julguem Juliana! Afinal, não é proibido querer viver! Ela não se aventurou sozinha! Ela estava com um grupo e com um guia que a deixou para trás em um momento de cansaço! Deixo meu relato de duas escaladas a vulcões que eu fiz no Chile e, assim como ela, paguei para ter um guia, uma agência e SEGURO! Mesmo assim, deixo aqui meu relato. Primeiro vulcão, o Villarica, no Sul do Chile. Escalada de 07 horas e alguns momentos com tempestade de neve! Um componente do grupo cansou bastante e foi deixado para trás, sozinho ali no meio daquela nevasca. Mesmo cansada subi com o grupo acreditando que estaria mais segura e em vários momentos me vi sozinha. Cheguei ao cume com a graça de Deus e pedindo que nossa senhora não largasse a minha mão. Quando desci fiz um relato a agência e ao TripAdvisor sobre o descaso do guia. Eles vendem o pacote caro sabendo que 80% desistem no meio do caminho. Já tem um guia para descer com esse pessoal. O restante que acredita que dá para continuar em frente apenas com um guia. Mas eles não te contam que dali pra frente é você com você mesmo caso queira desistir. O segundo vulcão é o Lascar, no Deserto do Atacama, com 5592m em seu cume. Esse foi mais tranquilo, apesar do mal da altitude. O guia que me acompanhava a todo tempo mencionava que brasileiro era fraco e desistia no meio do caminho. Chegamos ao cume. Pouco oxigênio. Da mesma forma, passeio com agência autorizada, pagamento caro de seguro (inclusive de balão de oxigênio) e um guia extremamente irresponsável que ao descer fez em uma velocidade absurda o que fez com que uma das pessoas do grupo passasse muito mal! Não se brinca com o mal da altitude. Foi oferecido oxigênio? Não! Continuei minha descida lentamente respeitando os limites do meu corpo, dessa vez, estava sozinha, pois seguiram o guia que me deixou para trás! Também fiz relato na agência e no TripAdvisor. O problema não é só na Indonésia! Infelizmente, Juliana não teve a mesma sorte! Também foi deixada para trás, caiu e ficou lá 04 dias a espera de um resgate. Esse tipo de passeio deveria ser revisto no mundo todo para que deixasse de ser uma atração turística onde se vende dizendo que qualquer um consegue”.

Dani no vulcão Villarrica (com a bandeira do Brasil) e no vulcão Lascar (créditos: Dani Filgueira)
O texto de Dani me fez relembrar um perrengue que passei no vulcão Villarrica, no Chile, em 2012. Eu e três “pregados” iguais a mim, quando chegamos ao topo com o coração pulsando na garganta.
Eu, que já admirava Dani pela aluna que foi (estudiosa e educada) e pela profissional que é (responsável e dedicada), tornei-me fã de vez. Como ela mesma me disse, “é importante divulgar o que é esse tipo de turismo”. Um turismo quase esporte.
Por mais Julianas que vivem e não apenas respiram e por mais Danis, educadas, competentes, ternas e empáticas.
O mundo agradece.