O jihadismo e o paradoxo da tolerância

por Sérgio Trindade foi publicado em 18.ago.17

 

Quase sempre que o Ocidente é barbaramente atacado pelo terrorismo islâmico (jihadismo), trilhamos primeiramente o caminho da demora em reconhecer que houve mesmo um atentado, logo seguido pelas reservas sobre a(s) identidade(s) do(s) autor(es) e sua(s) motivação(ões).

As manchetes de quase todos os jornais televisivos, abordando o atentado ocorrido em Barcelona, ontem (17), são risíveis: “Van avança sobre a multidão/pessoas, etc.”

Para os nossos jornalistas, vans saem sozinhas atropelando pessoas.

Sites e blogs seguiram o script, conforme registro da Folha/Uol: “Van atropela multidão em Barcelona e deixa 13 mortos e 100 feridos” http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/08/1910663-van-atropela-multidao-no-centro-de-barcelona-e-deixa-feridos.shtml.

Parece haver o desejo incontido de lamentar um acidente trágico ou no máximo um ato bárbaro de um “lobo solitário”, como se acidente fosse um terrorista lançar carros sobre pessoas ou como se os tais “lobos solitários” não fossem movidos por ideias e projetos, por mais absurdos que possam parecer.

A relutância em reconhecer a realidade não indica apenas prudência que deve, de fato, anteceder a tomadas de posições firmes.

A revolução nos meios de comunicação e de transporte e a livre circulação de jihadistas, alguns nascidos na Europa e nos Estados Unidos, trouxeram o mundo islâmico para dentro do Ocidente, com vantagens e desvantagens, diminuindo as distâncias físicas de forma cabal e as culturais, estas com muitos pontos de tensão.

Já não é incomum ler e ouvir pessoas, muitas esclarecidas e que não podem ser acusadas de bárbaras e selvagens e/ou extremistas, que está na hora de dar um basta à situação atual.

A questão é: o que ocorrerá se a civilização ocidental se sentir efetivamente ameaçada pelo terrorismo islâmico?

Resistir de outra forma, com o fechamento de fronteiras e outras medidas ainda mais duras, pode vir a ser uma alternativa cada vez mais a mão.

Seria ilusório pensar que a tolerância, um dos pilares sobre o qual se ergueu a civilização ocidental, continue sendo um princípio universal se ela põe em xeque a sobrevivência daquilo que pretende acalentar e defender.

Não é somente questão de abertura de espírito.

O paradoxo da tolerância, elaborado por Karl Pooper, identifica com precisão a situação que põe em choque a civilização judaico-cristã ocidental e a civilização islâmica oriental. O que Popper escreveu pode assim ser resumido: se a tolerância relativamente a posições intolerantes for levada a certos extremos, a ponto de permitir que as posições intolerantes vençam e afastem a própria tolerância, estaremos na antessala de uma situação em que a tolerância se pode tornar no seu próprio principal inimigo.

 

Por Sérgio Trindade

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