Brigadeiro, o doce

por Sérgio Trindade foi publicado em 31.maio.20

A campanha presidencial pós-Estado Novo teve os dois principais contendores saídos da caserna, Eurico Gaspar Dutra e Eduardo Gomes, general e brigadeiro, respectivamente.

O primeiro era um sensaborão. Péssimo orador, com problemas de dicção e com a língua presa, que o fazia trocar o “s” e o “c” pelo “x”, sua campanha claudicava, arrancando bocejos ou ditos e risadas irônicas de todos, quando o general tinha de enfrentar os microfones. Por isso, ganhava força entre os pessedistas a ideia de substituí-lo, não faltando postulantes.

Enquanto o staff pessedista estava incomodado com o seu candidato, a UDN vibrava com a candidatura de Eduardo Gomes, incensada pela grande imprensa, pela classe média emergente e pelos principais grupos empresariais.https://www2.fab.mil.br/incaer/images/eventgallery/instituto/Opusculos/Textos/opusculo_eduardo_gomes.pdf

Carismático, charmoso, bonito e com pinta de galã, o brigadeiro encantava a todos, sobretudo ao eleitorado feminino, que pela primeira vez iria às urnas votar numa eleição presidencial.

Um do slogans da campanha udenista dizia: “Vote no brigadeiro, que é bonito e é solteiro”.

E o eleitorado feminino vestiu a camisa de herói de um dos dois sobreviventes dos 18 do Forte (que não eram só 18) ou Revolta do Forte de Copacabana, arrecadando fundos para a campanha.

Alguém teve a ideia de produzir uns docinhos esféricos de chocolate para vender de porta em porta. Subitamente a nova guloseima recebeu o nome de brigadeiro, numa singela homenagem à patente militar do candidato.

A turma da oposição tratou de espalhar que o nome do docinho não era bem uma homenagem ao brigadeiro-candidato, mas uma alusão ao ferimento que Eduardo Gomes recebera na rebelião de 1922 – a Revolta do Forte de Copacabana. Na refrega, Eduardo Gomes perdera os testículos ou um deles e, portanto, o docinho esférico de chocolate aludia ao fato de não exigir ovos na receita. Uma outra versão indica que o doce é só uma bolinha, igual à que o brigadeiro ainda tinha. https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/dia-5-de-julho-de-1922-levante-dos-18-do-forte-de-copacabana-marca-tenentismo-21537055

Em tempo: o brigadeiro Eduardo Gomes, um dos dois sobreviventes (o outro foi Siqueira Campos, que teve ferimentos no ventre e na mão) da revolta que começou no Forte e terminou nas areias da praia de Copacabana, foi ferido na virilha e sofreu fratura do fêmur.

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