Como morreu Lampião?

por Sérgio Trindade foi publicado em 21.jun.20

Morto em 1938, na Grota de Angico, município de Porto da Folha, Sergipe, Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, é tema recorrente de estudos, por ter sido chefe inconteste, por quase duas décadas, do cangaço.

https://www.youtube.com/watch?v=odeIANL68Dg

Ainda hoje estudiosos do cangaço não chegaram à conclusão sobre Lampião passou desta para melhor.

O debate entre pesquisadores do cangaço segue mais próximo a um consenso, mas, parece, ainda longe do fim.

As dúvidas vão da forma como morreu em Angico até se morreu mesmo lá.

São muitas as teses sobre a morte do rei do cangaço.

Uma delas diz que Lampião e seu bando foram envenenados antes do tiroteio e que, portanto, a polícia disparou contra o grupo já morto; uma defende que quem morreu em Angico foi um sósia, porque o verdadeiro Lampião morreu em Minas Gerais, com mais de cem anos de idade.

Frederico Pernambucano de Mello, um dos maiores estudiosos do cangaço, escreveu um livro, Apagando Lampião, que parecia definitivo sobre os últimos dias do cangaceiro nascido no atual município de Serra Talhada, sertão de Pernambuco.

Escudado em fontes primárias, em depoimentos e em vasta bibliografia sobre o assunto, ele sustenta que Lampião morreu com um único tiro de fuzil disparado pelo cabo Sebastião Vieira Sandes, que estava a oito metros de distância do cangaceiro.

O assunto parecia pacificado até que o historiador e jornalista João Marcos de Carvalho produziu documentário pondo lenha nova na fogueira e lançando, a partir da análise feita pelo perito criminal Victor Portela, do Instituto de Criminalística de Alagoas, novas dúvidas.

Portela fez perícia nas roupas e objetos que estavam com Lampião na grota de Angico no dia em que ele e seu bando foram emboscados pela polícia alagoana.

Num depoimento prestado à BBC News Brasil, Carvalho graceja dizendo que pode expor até duas mil teses sobre a morte de Lampião e de parte de seu bando e, segundo ele, a de Frederico Pernambucano de Mello está equivocada.

Sua afirmação toma por base a perícia de Portela, que verificou o punhal, as cartucheiras e os bornais de Lampião, para registrar os pontos de impacto e perfurações, atestando que foram três os disparos que ceifaram a vida do cangaceiro que aterrorizava os sertões nordestinos há duas décadas: um acertou o punhal, e o projétil foi desviada para a região umbilical, um outro atravessou a cartucheira que estava sobre o ombro e atingiu o coração e um terceiro atingiu cabeça, sendo impossível, afiança Portela, dizer qual dos tiros matou Lampião.

Ele finaliza dizendo que certamente os tiros no peito e na barriga dificilmente matariam o cangaceiro imediatamente, ainda que tenham sido cruciais para a morte dele.

Lampião tinha um séquito de inimigos que desejavam o seu fim. Além disso, jogava contra os interesses do Estado brasileiro nascido no início da década de 1930 e que desejava quebrar a espinha dos potentados rurais que mandavam e desmandavam no sertão. Daí a ordem nascida diretamente no gabinete do presidente Getúlio Vargas: dar cabo de Lampião e destruir o cangaço.

É difícil saber, com precisão, qual foi o tiro que matou o rei do cangaço. Se partiu do fuzil do cabo Sandes, como ele mesmo sustenta e conta a Frederico Pernambucano de Melo, ou se procede a análise feita pelo perito criminal Victor Portela e levada a conhecimento público por João Marcos de Carvalho.

O assunto está longe do fim, para deleite dos amantes do tema.

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