Escapou fedendo

por Sérgio Trindade foi publicado em 28.dez.20

Em 1929, padre Cícero Romão Batista encerrava o último mandado como prefeito de Juazeiro do Norte. Tinha 85 anos de idade e passara os últimos 18 à frente do executivo municipal.

Dois contendores pleiteavam a vaga: Alfeu Ribeiro Aboim e João Bezerra de Menezes.

O governador do Ceará José Carlos Matos Peixoto, olhando para a campanha presidencial que ocorreria em março do ano seguinte, movimentou-se para conseguir apoio do padre que tinha fama de santo no sertão nordestino para o seu candidato, Alfeu Aboim. Em troca, o governador prometeu ao clérigo duas vagas na chapa para a câmara federal.

Prego batido, ponta virada, padre Cícero apoiou o candidato do governador, a máquina coronelista pôs-se em marcha e Alfeu Aboim venceu com 97% dos votos válidos.

Na eleição presidencial de 1930, na qual se confrontaram os situacionistas Júlio Prestes e Vital Soares contra Getúlio Vargas e João Pessoa, padre Cícero lançou carta aberta chamando a chapa oposicionista e seus seguidores de horda vermelha que ameaçava a família tradicional, “célula mater da sociedade cristã” e de “Besta-Fera do Apocalipse”, mas o seu candidato a prefeito, vitorioso no ano anterior, aderiu à horda vermelha e virou as costas aos dois padrinhos políticos, padre Cícero e Matos Peixoto.

A população juazeirense foi tomada de espanto e de indignação e o prefeito passou a ser frequentemente constrangido

Certa feita, quando o prefeito Alfeu Aboim, de paletó e gravata, caminhava pelas ruas da cidade, acenando para as pessoas que com ele cruzavam, foi subitamente abordado por um popular que lhe despejou um balde com urina e fezes sobre a cabeça.

Por muito tempo, os juazeirenses relembravam a história:

– O que aconteceu mesmo com o Aboim, hein? Morreu de vergonha?

– Morreu nada. Escapou fedendo.

posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar