O Brasil nasceu na Bahia

por Sérgio Trindade foi publicado em 24.jul.19

Disputas em torno do Descobrimento do Brasil são antigas.

Há quem indique que o Brasil foi descoberto por espanhóis em Jericoacoara e em Cabo de Santo Agostinho, Ceará e Pernambuco, respectivamente.

Esquecendo os espanhóis, afinal se aqui eles aportaram apenas acharam sem descobrir o Brasil (volto ao tema em outra oportunidade), os portugueses descobriram o Brasil exatamente onde?

Livro publicado na primeira metade do século passado reivindica para Alagoas o local do Descobrimento. Nós aqui, há coisa de vinte anos, registramos que foi pelo Rio Grande do Norte que o Brasil nasceu. A versão, digamos, oficial, crava a Bahia como o local no qual a armada cabralina aportou.

Escreverei três textos, de aproximadamente uma lauda, nas três próximas semanas, indicando o Descobrimento do Brasil na Bahia, em Alagoas e no Rio Grande do Norte.

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Há três testemunhos do Descobrimento – a Carta de Pero Vaz de Caminha, a Carta de Mestre João Faras e a Relação do Piloto Anônimo O material foi organizado por Paulo Roberto Pereira e publicado, em 1999, por Lacerda Editores.

O último traz muito pouco para dirimir discórdias sobre o local exato da chegada da expedição comandada por Cabral ao Brasil, diferente dos dois primeiros que fazem referências a dados de localização da esquadra no momento em que os portugueses avistaram e, depois, aportaram no Brasil.

A carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada comandada por Pedro Álvares Cabral, escrita no dia 1º de maio de 1500, e enviada ao rei D. Manuel, deslinda o fato de que a expedição cabralina avistara sinais de terra ainda no dia 21 de abril de 1500 (“muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno”), após ter percorrido aproximadamente, “segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas”, contadas a partir da ilha de S. Nicolau, arquipélago de Cabo Verde. No dia seguinte, 22, “quarta-feira, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos”, e, ao final da tarde, avistaram um “grande monte, mui alto e redondo; e outras serras baixas ao sul dele”. A maior elevação foi logo batizada de Monte Pascoal.

Quando Cabral aportou no Brasil, a légua marítima era equivalente a 5.920 metros e dezesseis léguas e dois terços dariam um grau terrestre. Assim, as 660 ou 670 léguas dariam algo entre 3.907 e 3.966 quilômetros.

Da ilha de S. Nicolau ao vislumbre do Monte Pascoal, a esquadra percorreu 700 léguas, segundo registra Max Justo Guedes no seu livro O Descobrimento do Brasil, obra importante para quem quer conhecer detalhes técnicos sobre o assunto. O dado não está distante dos cálculos feitos pelos pilotos da expedição portuguesa que desbravou o Atlântico e depois o Índico.

O que está registrado por Caminha não é desmentido pelo que escreve João Faras, médico. Ao contrário, até reforça o exposto pelo escrivão da esquadra.

Mestre João diz ter descido em terra firme no dia 27, segunda-feira, cinco dias após o avistamento do Monte Pascoal, acompanhado por Afonso Lopes e Pero Escolar, pilotos da naus de Cabral e de Sancho de Tovar, respectivamente, e “tomamos a altura do sol ao meio-dia e achamos 56 graus, e a sombra setentrional, pelo que, segundo as regras do astrolábio, julgamos estar afastados da equinocial por 17º”. Ou seja, estavam a 17º de latitude sul, o que confere com a localização de Porto Seguro, 16º e 20 minutos.

Os 17º graus de latitude sul anotados por João Faras conferem exatamente com a localização do Monte Pascoal.

O Brasil foi descoberto na Bahia.

 

 

Por Sérgio Trindade

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