A sucessão de Lavoisier Maia – parte 1

por Sérgio Trindade foi publicado em 04.set.20

Escrevi, neste espaço, sobre como foram feitas as escolhas dos governadores Cortez Pereira, Tarcísio Maia e Lavoisier Maia, todos eleitos pelo voto indireto.

O primeiro governador do Rio Grande do Norte eleito pelo voto direto desde 1965, quando Walfredo Gurgel ganhou a corrida eleitoral para ocupar o Palácio Potengi, então sede do governo estadual, por cinco anos (1966-1971), foi José Agripino Maia, em 1982.

Tendo em vista as particularidades da escolha de José Agripino, dividirei o texto em três partes.

Desde antes da posse, o Presidente Ernesto Geisel, assessorado pelo general Golbery do Couto e Silva, falava sobre o processo de abertura que pretendia implementar uma reformulação do regime autoritário implantado em 1964, que desembocou numa série de transformações nos valores e instituições: abertura política, reformulação partidária e abrandamento e extinção gradativa dos dispositivos autoritários, todas motivadas pela debilidade do regime de exceção nascido em 1964 e que refletia negativamente no potencial eleitoral da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), agremiação partidária que dava sustentação do governo federal.

A fraqueza eleitoral da ARENA ficou escancarada nas eleições de 1974, confirmada nas eleições de 1976 e 1978 e representou um divisor de águas para o regime de 1964, abrindo dissidências no seio dos dois partidos – ARENA e MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

O estrategista político do governo, general Golbery do Couto e Silva, identificava no quadro bipartidário um elemento plebiscitário que puxava a ARENA para baixo e impulsionava o MDB, partido de oposição ao regime discricionário.  

O período iniciado em 1974-75 foi muito importante para os rumos do quadro político-partidário brasileiro. No Rio Grande do Norte, em especial, a movimentação maior era motivada pelo retorno do ex-governador Aluízio Alves à vida pública e do progressivo desgaste da liderança política do senador Dinarte Mariz, substituído paulatinamente no cenário político potiguar por Tarcísio Maia, desde meados da década de 1970 e com mais força após a eleição de 1978, quando Tarcísio conseguiu o feito de garantir o apoio da família Alves à candidatura senatorial de Jessé Pinto Freire, em evento conhecido como a “paz pública”.

O confronto, em 1978, deu-se entre Aluízio Alves e Tarcísio Maia contra Dinarte Mariz e a família Rosado, na defesa de seus candidatos ao Senado, respectivamente, Jessé Freire e Radir Pereira, e trouxe de volta a radicalização nos moldes dos anos 1960, quando Aluízio e Dinarte brigavam pela primazia política no estado.

Foi impossível a manutenção da aliança entre as famílias Maia e Alves, em virtude das pretensões políticas de Tarcísio e de Aluízio, com este cobiçando a cadeira de governador e aquele querendo reservar o mesmo assento para o filho, José Agripino Maia.

O projeto político de Tarcísio Maia foi implementado quando a aliança Alves e Maia ainda vigorava. Primeiro com a indicação de Lavoisier para governador do estado e, depois, com a de José Agripino, para prefeito de Natal. O segundo movimento de Tarcísio foi o início do fim do noivado, com a família Alves afastando-se dos Maia.

Enxadrista político arrojado, Tarcísio, o primeiro dos Maia a governar o Rio Grande do Norte, indicou Lavoisier Maia para sucedê-lo no governo do estado, barrando a candidatura de aspirantes mais fortes ao Palácio Potengi, e garantiu com a indicação, em 1979, de José Agripino para prefeito de Natal fortalecer o seu grupo político para concorrer ao governo do estado em 1982. A prefeitura de Natal serviu de base de lançamento para a vitoriosa candidatura governamental do filho de Tarcísio, como Dinarte se referia a José Agripino.

O pleito eleitoral pavimentou o percurso para a reformulação partidária, mostrando todos os caminhos por onde ela transitaria, tendo em vista o fortalecimento de dois grupos políticos, o de Aluízio Alves e o de Tarcísio Maia, com este em claro apoio ao governo federal e almejando açambarcar o espólio político de Dinarte Mariz no comando do partido de sustentação ao governo federal e aquele trilhando o caminho de oposição moderada ao governo federal e tentando se manter aliado a Tarcísio Maia na política local.

A reforma partidária no Rio Grande do Norte, porém, trazia um ingrediente extra: a dificuldade para a manutenção da aliança política entre os grupos Alves e Maia.

A família Maia entrou no sucedâneo da ARENA, o Partido Democrático Social (PDS) enquanto a família Alves se encaminhou para formar na oposição ao governo federal.

Para manter a aliança, Aluízio Alves ventilava a possibilidade de se filiar a um partido de oposição moderada. A família Maia, por meio do governador Lavoisier, também dava indicações de que iria permanecer aliado aos Alves. A reformulação partidária, porém, apressou o fim da “paz pública”, tendo em vista o choque de interesses entre os dois grupos, como veremos nos textos seguintes.

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