A sucessão de Tarcísio Maia
Tarcísio Maia entrou, em 1978, no seu penúltimo ano, último completo (o mandato se encerraria em março de 1979), de seu governo e, para evitar surpresas, dadas as circunstâncias políticas de então, com o partido oposicionista aumentando sua influência (venceu as eleições legislativas de 1974 e tivera rendimento surpreendentes no pleito municipal de 1976), principalmente nas capitais, começou a articular o nome para sucedê-lo no Palácio Potengi, sede do governo estadual.
Os membros da bancada arenista, na Câmara dos Deputados (Antônio Florêncio, Ulisses Potiguar, Vingt Rosado e Wanderley Mariz) e no Senado (Dinarte Mariz e Jessé Freire), pressionaram o governador para indicar o nome do futuro governador.
Dinarte jogou, uma vez mais, as fichas no nome do mossoroense Dux-Huit Rosado e o governador Tarcísio Maia reagiu à imposição de Dinarte e refutou, como pôde, a pressão da bancada da ARENA potiguar, o que terminou levando, novamente, como das duas vezes anteriores, à elaboração de uma lista sêxtupla, que deveria ser apreciada e aprovada pelos deputados governistas da Assembleia Legislativa.
Em meados de fevereiro, reuniram-se, na casa do governador, localizada na avenida Hermes da Fonseca, bairro do Tirol, várias lideranças políticas. Até o ex-governador Aluízio Alves, cassado em 1969 pelo regime discricionário, esteve presente. Ressalte-se que, segundo João Batista Machado, jornalista que escreveu importante trabalho sobre como foram as tratativas para as escolhas dos governadores indiretos, Aluízio Alves foi sempre ouvido.
Na reunião foram definidos os nomes dos pleiteantes ao cargo: Antônio Florêncio, Dix-Huit Rosado, Genibaldo Barros, Jessé Freire, Lavoisier Maia e Ulisses Potiguar – com Dix-huit, Jessé e Lavoisier como favoritos.
Dix-huit Rosado era o candidato de Dinarte Mariz; Jessé Freire, importante empresário e poderoso presidente da Confederação Nacional do Comércio, tinha o apoio do empresariado local; Lavoisier Maia, primo do governador, aparecia como o preferido do Palácio Potengi.
Como das vezes anteriores, com Rondon Pacheco (1970) e Petrônio Portela (1974), o governo enviou um emissário para sondar e aparar arestas. Dessa vez o escolhido foi o deputado federal e presidente nacional da ARENA, Francelino Pereira, que aqui chegou em março e já encontrou o caminho pavimentado, com lista sêxtupla montada e aprovada por quase todas as forças políticas do estado.
Francelino Pereira se reuniu com as principais lideranças políticas e voltou à capital federal com a lista no bolso, para apresentá-la ao Palácio do Planalto, que, como tudo indicava, resumiu seis a três: Dix-Huit, Jessé e Lavoisier.
Lavoisier Maia, apesar do apoio do primo governador, era o elo mais fraco. Com pouca experiência política, havia apenas sido secretário de saúde do estado, onde angariou apoio de muitos prefeitos, sabia que a sua indicação dependia quase que exclusivamente da capacidade que Tarcísio Maia tinha de influenciar o pleito. Se percebesse que suas chances eram muito limitadas, pretendia se lançar candidato à Câmara de Deputados.
Conta-se que em reunião com o governador, Lavoisier ouviu, em tom de brincadeira, a seguinte sentença:
– Lavô, você pode não ser o escolhido porque é feio, não é um nome nacional e não sabe falar. Mas vamos tentar.
Percebendo que suas chances eram limitadas, o secretário de saúde decidiu se movimentar, junto a muitos dos prefeitos que o apoiavam, para garantir a candidatura a deputado federal. Paralelamente, as chances de Dix-huit caíam, enquanto crescia o nome de Jessé, que se tornou quase um nome de consenso entre todas as forças políticas do estado, contando aí o MDB, que, mesmo não votando nele, não iria lhe ciar embaraço.
Tudo caminhava à perfeição para Jessé quando o Palácio do Planalto, não se sabe, mas presume-se, por instância de alguém importante, exigiu que o escolhido tivesse uma esposa para fazer as vezes de primeira-dama – fato difícil para Jessé, casado com dona Elza mas vivendo maritalmente com dona Ivanise, mãe de Jessé Filho e de Fernando.
Comunicado por Francelino Pereira sobre a exigência feita do Palácio do Planalto, o senador Jessé Freire comunicou que abria mão da indicação, porque não iria virar às costas para a família que constituíra.
– Prefiro manter-me senador e ficar em paz com minha consciência, mantendo-me ao lado de minha família, teria dito Jessé, deixando o caminho aberto para a indicação de Lavoisier.
Daí pra frente, com apoio do primo Tarcísio e do Ministro-Chefe de Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, Lavoisier Maia disparou nas apostas, enquanto a candidatura de Dix-huit Rosado, duas vezes rejeitada, em 1970 e 1974, patinava novamente.
Na tarde de 14 de maio de 1978, Lavoisier Maia Sobrinho foi informado que seria o governador do Rio Grande do Norte, para o mandato de 1979 a 1983.