A política potiguar e o anedotário político 6 – a campanha de 1960 (1)

por Sérgio Trindade foi publicado em 27.jun.23

Campanhas políticas memoráveis ocorreram no Rio Grande do Norte.

A de José da Penha, no início da segunda década do século passado; em meados dos anos 1930, quando os decaídos em 1930 enfrentaram os aliados do interventor Mário Câmara; a eleição que levou, nos anos 1950, Dix-sept Rosado ao governo do estado; o confronto entre Agenor Maria e Djalma Marinho, em 1974, pela vaga de senador; a disputa entre Geraldo Melo e João Faustino, em 1986, pela cadeira de governador. Nenhuma, porém, carrega a mística da de 1960, quando Aluízio Alves e Djalma Marinho concorreram à vaga de governador.

São muitos os casos e causos. Hoje, escorado em 1960, explosão de paixão e ódio, de João Batista Machado, conto alguns.

O então deputado federal Tarcísio Maia, que na transição da primeira para a segunda metade da década de 1970, chegou ao governo do estado pelas mãos dos militares, era aliado, na campanha sucessória de Dinarte Mariz, do deputado federal e candidato a governador Djalma Marinho. Bem no clima na campanha, Tarcísio lançou um desafio: apostava CR$ 1.600.000,00 (um milhão e seis mil cruzeiros), uma fortuna à época, no vitória do candidato situacionista. Passaram-se dias e ninguém do lado do candidato oposicionista Aluízio Alves aparecia para fazer frente ao desafio do deputado udenista, até que aparece em Mossoró o empresário Abelírio Rocha e cobre a proposta de Tarcísio Maia, elevando a aposta para CR$ 2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros).

Acertados os detalhes, os apostadores foram ao cartório e registraram um contrato no valor de 4.000.000,00 (quatro milhões de cruzeiros), depositando o dinheiro numa conta conjunta até o que o resultado do pleito eleitoral fosse oficializado.

A notícia correu o estado e acirrou ainda mais os ânimos dos partidários de Aluízio e Djalma. As improvisações e o deboche tomaram conta das ruas e avenidas. E neste quesito, Mossoró foi um caso à parte. Ali, o cardiologista José Leão passou a andar vestido como um cigano, com trajes verdes, cor da Cruzada da Esperança, sobre o estribo de um caminhão e com um papagaio pendurado no dedo. Um anônimo eleitor aluizista pintou um carneiro de verde, levava-o a todas as passeatas e comícios e era convidado a subir no palanque com o animal.

Foi uma campanha que mudou a forma de fazer política no Rio Grande do Norte, rica em casos e causos, como os descritos por Machado e como os contados nos dois primeiros episódios da série, o da “cigana” que tomou banho de urina, em Florânia, e o de Maria Mula Manca, em Natal, extremamente radical, dividindo o estado em bandas que não se cumprimentavam e sequer se olhavam, e definidora dos rumos políticos do Rio Grande do Norte por praticamente cinco décadas.

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