Natal, o bairro-operário e o bairro-jardim (3)
Como já escrito em outro(s) texto(s), ao contrário do Plano Polidrelli (http://historianosdetalhes.com.br/historia-do-rn/natal-o-bairro-operario-e-o-bairro-jardim-1/) (http://historianosdetalhes.com.br/historia-do-rn/natal-o-bairro-operario-e-o-bairro-jardim-2/), do início do século XX, o Plano Geral de Sistematização, implantado durante a gestão do prefeito Omar O’Grady, que garantiu o ordenamento urbano da Cidade Nova (Petrópolis e Tirol) e de grande parte do Alecrim, nunca “foi totalmente implementado”, provavelmente porque a Revolução de 1930 interrompeu os mandatos do governador Juvenal Lamartine e do próprio prefeito. Porém, a ruptura do processo político-administrativo não inviabilizou a tentativa de preservar alguma coisa do Plano Palumbo, que era rigorosamente seguido pela Municipalidade, antes da eclosão do movimento revolucionário que levou Getúlio Vargas ao Palácio do Catete, sede do governo federal, no Rio de Janeiro.
Segundo o professor Pedro de Lima, em seu livro Natal século XX, do urbanismo ao planejamento urbano, o Plano Geral de Sistematização de Natal pretendia articular “o zoneamento da cidade (definição e distribuição das funções administrativas, comerciais, industriais, etc) com o embelezamento (agenciamento de ruas e avenidas, arborização, passeios, parques, etc), com infraestrutura (sistema viário, iluminação, etc) e com medidas ambientais e de higiene, como a criação de um grande parque central, e a localização adequada de cemitérios e matadouros.”
Fazia parte desta proposta um imenso parque e uma “cidade-recreio”, da qual, registra o eminente professor, existem poucos registros, excetuando-se o “relatório do Escritório Saturnino de Brito, de 1935”, que dá o traçado geral onde estaria localizado o parque, entre a rua Ceará-Mirim e as avenidas Rodrigues Alves, Alberto Maranhão, Prudente de Morais, Alexandrino de Alencar e Olinto Meira, articulado com “áreas onde existiam duas lagoas para captação de água.” Já a cidade-recreio-jardim, conforme o desenho esquemático citado por Pedro de Lima, com “características paisagísticas excepcionais”, localizar-se-ia à oeste do rio Potengi, à nordeste e à leste do oceano Atlântico, limitando-se, ao sul, “com uma encosta que na sua parte sudeste se torna bastante íngreme, formando um triângulo.”
Do bairro-jardim, estruturado num círculo central, “partem dez vias dispostas de forma radial”, que, além de delinearem mais um bairro para a cidade, fariam o papel de “elemento estruturador da expansão desta parte da cidade”, pois definiriam “espaços reservados, provavelmente, para residências e demais equipamentos”, interconectando “as partes existente e novas da cidade”.
Ao final, o Plano de Expansão de Natal, proposto pelo Escritório Saturnino de Brito, manteve muita coisa do Plano Palumbo, como traçado básico do eixo viário, como o bulevar de contorno e o parque na área entre a lagoa Manoel Felipe, lagoa Seca e o riacho do Baldo, e conservou também o traçado em xadrez do Plano Polidrelli (para o Alecrim, o bairro-operário, e Cidade Nova), ao mesmo tempo em que subordinou “o seu desenho às exigências impostas pelos sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário (aproveitamento da lagoa Manoel Felipe para captação de água e construção de ‘uma avenida na encosta destinada ao coletor principal de esgotos’)” e submeteu-o às “condições da paisagem natural e urbana buscando embelezar e higienizar a cidade”, articulando fluidamente a cidade “entre as formas novas e antigas, através de vias sinuosas adaptadas à topografia” e integrando tais vias ao grande parque urbano proposto por Palumbo, bem como a praças, edifícios do governo, estação ferroviária, aeroporto e o bairro-jardim, que, conforme o novo Plano, ocuparia “cerca de metade da área daquele proposto por Palumbo, em 1929”, tendo em vista que a outra metade seria destinada ao aeroporto.
Uma das preocupações centrais do Plano de Expansão de Natal, que “retomou, incorporou e modificou as propostas urbanísticas dos planos Polidrelli e Palumbo”, era fundi-las, da forma mais razoável possível, com o traçado irregular que a cidade carregava, tirando vantagens das condições topográficas irregulares e sinusosas do terreno, pois isso valorizaria as qualidades ambientais e paisagísticas do sítio, potencializando a beleza do lugar.