O Alecrim e a Baixa da Égua

por Sérgio Trindade foi publicado em 16.abr.21

Quando fundada, Natal tinha como limites norte a atual praça das Mães, onde a avenida Câmara Cascudo (antiga Junqueira Aires) bifurca-se, e sul, a praça da Santa Cruz da Bica, em frente ao atual prédio da COSERN.

Praça das Mães
Praça da Santa Cruz da Bica

Até o início do século XX, só dois bairros compunham o núcleo urbano de Natal: Cidade Alta e Ribeira.

O Alecrim já estava razoavelmente integrado à cidade quando, em 1911, foi oficializado como bairro de Natal. Foi o quarto, depois da Cidade Alta, Ribeira e Tirol/Petrópolis, este último nascendo oficialmente, segundo Itamar de Souza, como “Cidade Nova e que, alguns anos depois, passou a ser conhecido pela denominação de Petrópolis e Tirol”.

As primeiras habitações do que veio a se tornar o Alecrim remontam ao distante século XVI, quando os franceses, em aliança com os índios potiguares, traficavam pau-brasil e, para tal, montaram uma feitoria nas imediações de onde hoje é a Guarita, período inclusive que determinou, conforme Itamar de Souza, “o topônimo mais antigo do Alecrim, (…) Refoles”, corruptela do nome Jacques Riffault, pirata francês que “estacionou o seu barco tantas vezes no rio Potengi (e) que deixou o seu nome gravado na memória secular do povo”.

Refoles

A presença portuguesa, de maneira regular, no Alecrim é do ano de 1677, quando foram distribuídos os primeiros lotes de terras No entanto, somente no século XIX pescadores foram se espalharam pelas margens do rio Potengi e comerciantes concentraram-se nas proximidades da antiga estrada que ia em direção aos Guarapes, importante entreposto comercial a meio caminho entre Natal e Macaíba. Em todo o percurso, havia sítios nos quais se produzia frutas e hortaliças e se criava gado vacum e outros animais.

Com o tempo, o povoamento foi se afastando mais do rio e da estrada e formando um núcleo populacional com dinâmica econômica própria e ligeiramente diferente da Ribeira e da Cidade Alta, até que, como dito acima, o bairro foi reconhecido por meio de lei da Intendência do Município de Natal, de 23 de outubro de 1911, desmembrado da Cidade Alta e que tinha “por limites ao norte uma linha que, partindo da ponta de Areia Preta, se dirige, pela rua Ceará-Mirim e Baldo, ao rio Potengi; a leste, o oceano até encontrar a avenida Sul, que demora no extremo do terreno patrimonial do município; ao sul, a mesma avenida limite do patrimônio municipal até o rio Potengi, até encontrar o ribeiro que banha o sítio denominado Oitizeiro”.

Depois de Refoles, o atual Alecrim foi chamado de Alto da Santa Cruz e Cais do Sertão, ainda no início do século XX, porque ali, de acordo com Itamar de Souza, iam “se acomodando os migrantes que buscavam na capital do Estado melhores condições de vida”. Cascudo diz que a origem do topônimo que batizou o bairro definitivamente veio de uma senhora já entrada em anos e que morava na praça Pedro II. Segundo ele, ela “costumava enfeitar com raminhos de alecrim os caixões de anjinhos que eram levados para sepultar no cemitério. O carregamento era feito pelas crianças das escolas, oficiais e particulares. Os meninos, levando o féretro, iam à velha do alecrim na certeza do ornamento. Essa velha sem nome batizou todo o bairro. Dizem outros ter vindo o nome da abundância dos alecrim-de-campo e também da vassourinha”.

O Alto da Santa Cruz, onde hoje estão localizados o cemitério, a igreja de São Pedro e a Escola Nossa Senhora das Neves, tornou-se uma das duas áreas que formavam o Alecrim. Entre o final do século XIX e o início do século XX, havia ali muitas casas de alvenaria e habitada por pessoas de posses e alguns sítios. Entre a Cidade Alta e o Alto da Santa Cruz havia a Mata da Bica, que a população dizia ser mal-assombrada.

Igreja de São Pedro, na região do antigo Alto da Santa Cruz

O outro núcleo era a Baixa da Égua, assim chamada por ser um local distante. Mandar alguém para a baixa da égua é desejar que ela siga para um lugar que ninguém gostaria, por ser distante ou ruim, ou ambos; geralmente assim praguejamos contra quem nos atormenta.

Segundo Câmara Cascudo, a Baixa da Égua (que padre João Maria passou a chamar de Baixa da Beleza) era localizada originalmente entre as atuais igrejas da Conceição (avenida Presidente Sarmento) e São Sebastião (avenida Coronel Estevam), do novel bairro natalense, então a área urbana da cidade mais distante do centro da pacata e provinciana Natal. Estava para muito além do cemitério, naquele momento uma fronteira distante da cidade.

A Baixa da Égua foi sendo deslocada à medida que a cidade crescia e o Alecrim se desenvolvia, ocupando as imediações do entroncamento das avenidas Leão Veloso (Cinco) e Coronel Estevam (Nove). Posteriormente passou para o atual bairro de Bom Pastor, porquanto as regiões que faziam limite com o Alecrim, Quintas e Carrasco, já estavam batizadas.

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