O Alecrim e as suas ruas numeradas

por Sérgio Trindade foi publicado em 22.abr.21

Quarto bairro de Natal [depois da Cidade Alta, Ribeira e Cidade Nova (Petrópolis/Tirol)], o Alecrim já foi Refoles, Alto da Santa Cruz e Cais do Sertão. Tornou-se Alecrim por meio do Decreto da Intendência Municipal de Natal, de 23 de outubro de 1911. A origem do topônimo, segundo Câmara Cascudo, na sua História da Cidade do Natal, veio de uma senhora que morava na praça Pedro II e que “costumava enfeitar com raminhos de alecrim os caixões de anjinhos que eram levados para sepultar no cemitério. O carregamento era feito pelas crianças das escolas, oficiais e particulares. Os meninos, levando o féretro, iam à velha do alecrim na certeza do ornamento. Essa velha sem nome batizou todo o bairro. Dizem outros ter vindo o nome da abundância dos alecrim-de-campo e também da vassourinha”.

As avenidas e ruas que estavam dentro do perímetro do Alecrim tiveram o mesmo traçado em forma de xadrez da Cidade Nova (Petrópolis/Tirol), seguindo os ditames, segundo Itamar de Souza, em Nova História de Natal, do projeto de Antônio Polidrelli, contratado pela municipalidade em 1903-1904, e que, conforme registra o professor Pedro de Lima, em seu livro Natal século XX – do urbanismo ao planejamento urbano, “estabeleceu um padrão espacial para a cidade situada à margem direita do rio Potengi, constituído por um conjunto de eixos viários paralelos e perpendiculares, definidos no sentido norte-sul e leste-oeste”. Ressalto, ainda amparado no trabalho do professor Pedro de Lima, que muito embora o Plano da Cidade Nova (Plano Polidrelli) tenha se fixado em 1904, é possível “dizer que a ideia de realizá-lo circulava entre a elite dirigente desde os últimos anos do século XIX.

Bairro do Alecrim (início do século XX)

As avenidas receberam inicialmente numeração de 1 a 5, depois estendida até 12 (e outras vezes estendidas), quando Omar O’Grady, presidente da Intendência Municipal (prefeito da cidade), contratou o arquiteto Giacomo Palumbo para fazer o Plano Geral de Sistematização de Natal (Plano Palumbo), de 1929, que incluía a Cidade Nova e o Alecrim, solicitou ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), à época dirigido por Nestor dos Santos Lima, que indicasse vultos históricos para nomear as avenidas já traçadas e numeradas de 1 a 12 do Alecrim, bairro em acentuado processo de expansão, conforme registra Itamar de Souza. Foram escolhidos cinco presidentes da província (nomes dos estados durante o período monárquico) do Rio Grande do Norte.

Conforme expõe Pedro de Lima, o Plano Palumbo pretendia “contemplar o reordenamento da cidade já consolidada, incluindo o Plano da Cidade Nova e parte do atual Alecrim”, construindo uma cidade-jardim e um “bairro operário”, o que se configurou posteriormente, em 1935, pelo Plano de Expansão de Expansão de Natal, à exceção do bairro operário. O professor segue dizendo que o Plano Palumbo “não foi implementado em sua totalidade”, como veremos em outro texto.

Antes de seguir, faço um adendo: a disposição de ruas numeradas também ocorreu na Cidade Nova (Petrópolis e Tirol), terceiro bairro de Natal, como veremos em outro texto.

De acordo com Itamar de Souza, o IHGRN, por meio do seu presidente Nestor Lima, “relacionou 167 nomes históricos e os entregou ao prefeito. Por conseguinte, foi baseado nestas sugestões que a Prefeitura de Natal colocou, no Alecrim e no bairro de Lagoa Nova, nomes de presidentes da Província do Rio Grande do Norte, isto é, nome de pessoas que governaram o nosso Estado no período colonial e durante o Império. (…) Iniciativa semelhante foi tomada em relação às nossas tribos indígenas, quase todas dizimadas no século XVII, ao tempo da Guerra dos Bárbaros”.

As cinco primeiras avenidas ficaram assim distribuídas: a avenida Um passou a ser avenida Presidente Quaresma (Basílio Quaresma Torreão, 1833-1836); a Dois, Presidente Bandeira (João Capistrano Bandeira de Melo, 1873-1875), a Três, Presidente José Bento da Cunha Figueiredo Junior, 1860-1861), a Quatro, Presidente Sarmento (Cassimiro José de Morais Sarmento, 1845-1947) e a Cinco, Presidente Leão Veloso (Pedro Leão Veloso, 1861-1863). Outras avenidas e ruas numeradas receberam o nome de tribos indígenas ou de outras pessoas ilustres: a Seis recebeu o nome de rua dos Canindés; a Sete, rua dos Caicós; a Oito, rua dos Pajeús; a Dez, rua dos Paianazes; a Onze, rua dos Paiatis.

Avenida Amaro Barreto (Avenida 12)

Itamar de Souza sustenta baseado em documentação que em 1908, portanto três anos antes do nascimento do Alecrim, a Intendência Municipal criou três avenidas no bairro: Coronel Estevam, Amaro Barreto e Sílvio Pélico. A avenida Coronel Estevam (avenida Nove), de 1908, é uma homenagem ao homem público (foi deputado e vice-presidente da província) responsável por abrir a primeira estrada ligando Natal a Macaíba. A avenida Doze recebeu o nome de avenida Amaro Barreto, pai do ex-governador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão; sua extensão, em direção às Quintas, foi batizada com o nome de Mário Negócio, secretário de estado morto no mesmo acidente que vitimou o governador Dix-Sept Rosado, no início da década de 1950.

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