Theodorico Bezerra, o “majó” coronel

por Sérgio Trindade foi publicado em 04.ago.22

Fui terça-feira, 02/08, ao lançamento do livro de memórias de Manoel de Medeiros Brito, “Tempos Marcantes”.

O ambiente de reencontro com amigos e ex-alunos e a visão de muitos políticos que fizeram a história recente do Rio Grande do Norte me fizeram recordar de casos e causos da história política potiguar.

Começo com o agropecuarista e empresário Theodorico Bezerra, falecido em 1994, uma das mais matreiras lideranças políticas do estado e um repositório imenso do folclore político de nosso estado.

Não são poucas as frases que exprimem o quão ardiloso era o “majó”. Destaco três: 1) “A luz que vai na frente é a que mais clareia”, 2) “Amigos são todos como ave de arribação: se faz bom tempo vêm; se o tempo é ruim, vão” e 3) “Acordo cedo, ando ligeiro e falo pouco para não perder tempo”.

Theodorico Bezerra foi, entre as décadas de 1940 e 1980, deputado estadual, deputado federal e vice-governador do estado. No final de sua vida pública, foi agraciado com um programa Globo Repórter, da TV Globo.

Era um homem do sertão. Mesmo quando saiu do sertão, o sertão nele permaneceu.

Telúrico como era, durante a campanha presidencial de 1955 levou o ex-governador de Minas Gerais e candidato a Presidente da República, pelo PSD, Juscelino Kubitschek a Santa Cruz para apreciar uma vaquejada, na qual o líder político potiguar preparou uma surpresa: mandou marcar com tinta dois touros grandes com os nomes UDN (partido que se opunha a aliança nacional PSD-PTB e também partido adversário do PSD de Theodorico) e PSD. O touro PSD era grande e brabo e nenhum vaqueiro o derrubou, enquanto o touro UDN, para deleite do “majó”, de JK e de sua comitiva, quase desanca de tanto cair com as quatro patas cima.

JK em Santa Cruz (foto da Internet)

Treze anos depois, o Presidente Costa e Silva, segundo dos generais-presidentes, assinou o Ato Institucional nº 5 (AI-5) e o agropecuarista, empresário e político nascido em Santa Cruz começou a ser perseguido por adversários políticos, o que culminou com sua prisão, por 22 dias, na base Naval de Natal e mais 22 em prisão domiciliar. No período, aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) fizeram voos rasantes sobre Santa Cruz, para amedrontar os aliados do “majó”, conforme registra o jornalista João Batista Machado, em sua obra “Bastidores do poder”.

Mesmo com os reveses, Theodorico conseguiu sobreviver politicamente, elegendo-se deputado estadual em 1974 e em 1978 e, por meio de amigos influentes, aproximou-se de autoridades militares, entre as quais o brigadeiro Murilo Santos, comandante do CATRE.

Ele e o brigadeiro Murilo Santos inventaram ao organizarem, em meados dos anos 1970, em “Irapuru”, fazenda do “majó” em Tangará, uma aero vaquejada, com bois correndo no pátio da fazenda e aviões fazendo acrobacias e dando voos rasantes sobre as terras do líder político trairiense.

O “majó” saía da política por cima com a aero vaquejada e, na sequência, com um programa Globo Repórter, a ele dedicado com o título “Imperador do Sertão”.

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