Ibope tem ibope?

por Sérgio Trindade foi publicado em 25.set.18

Segundo os dados do Ibope divulgados ontem, Bolsonaro estacionou nos 28% e perde para todos os candidatos no segundo turno, exceto Marina Silva, que desidratou rapidamente, a exemplo que ocorreu em 2014; Haddad subiu para 22% e, pela primeira vez, aparece à frente do capitão no segundo turno, abrindo vantagem de 6%. https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/09/24/pesquisa-ibope-bolsonaro-28-haddad-22-ciro-11-alckmin-8-marina-5-dia-24-09.ghtml

Os números do Ibope de ontem trouxeram à tona novamente uma discussão que já faz parte do cotidiano bienal do brasileiro.

A cada dois anos, somos submetidos, no Brasil, à mesma lenga-lenga acerca da confiança ou não que devem ter os institutos de pesquisas de intenção de voto. As críticas são proporcionais ao número de pesquisas que vêm a público e ao número de insatisfeitos com os números revelados. Pesquisa boa é, quase sempre, a do nosso agrado.

Há pesquisas e pesquisas. As para consumo interno orientam as estratégias dos partidos políticos e dos candidatos, determinam os caminhos, trilhas e veredas a serem percorridas; há pesquisas que informam (ou desinformam) o público (afinal, já dizia Lima Barreto, o Brasil não tem povo, tem público) e, por que não dizer, infuenciam a decisão do voto.

As pesquisas eleitorais são realizadas por uma técnica de amostragem referente ao eleitorado apto a votar de uma dada região, utilizando-se de dados oficiais de órgãos públicos: Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunal Regional Eleitoral (TER) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros.

A técnica mais comum é a de cotas, que funciona assim: definidos os municípios que serão pesquisados, são separados os bairros e regiões que tenham em torno de 1.000 habitantes, para depois, separar os habitantes por cotas (faixa etária, grau de escolaridade, sexo, etc). O número de eleitores pesquisados deve ser proporcional ao número de habitantes.

O outro método é por fluxo de ponto, que consiste em situar um entrevistador num determinado local durante algumas horas coletando opiniões de acordo com o fluxo de pessoas que passam naquelas imediações.

Como uma pesquisa eleitoral retrata apenas um momento, os seus resultados podem sofrem mudanças repentinas e bruscas ou progressivas, conforme o passar do tempo e desenrolar dos acontecimentos ao longo campanha eleitoral. Tais alterações são resultado da variação da opinião pública, sempre mutável e por vezes instável.

Há, suspeito, outros fatores: nem sempre os institutos de pesquisa adotam tamanhos de amostras, cometem distorções na forma de coleta de dados, manipulam os dados e podem usar de má-fé na hora da divulgação.

Não é absurdo pensar, como me disse um estudioso do tema, que existam perguntas que dificilmente são feitas aos eleitores, a saber, a disposição deles em vender o voto, de mudar o voto por uma raiva pontual ou por saber que um inimigo vota no candidato que escolheu, etc.

Os institutos de pesquisa acertam e erram no Brasil desde sempre. https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2016/noticias/2016/10/03/o-que-explica-o-salto-que-levou-doria-de-5-a-vitoria-no-1-turno.htm

O mesmo ocorre em outros países, como demonstra a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos. https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/11/1830275-hillary-tem-90-de-chances-de-ganhar-diz-pesquisa.shtml

Os resultados apontam algumas vezes para aferição científica. Outras, para aposta pura e simples.

 

 

Por Sérgio Trindade

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