O debate global, Padre Kelmon e o fim do Brasil

por Sérgio Trindade foi publicado em 30.set.22

Acompanhei o debate presidencial de ontem sem muito interesse. Melhor dizendo, interessado quase que somente em saber quem era o Padre Kelmon, a quem alguns amigos e vários colegas me disseram muita coisa ao longo dos dias que se seguiram ao debate no SBT.

Fiz, do meio para o fim do debate, uma brincadeira nas redes sociais dizendo o que segue abaixo:

Habemus candidato e ele é “padre”. 

Eu estava pensando em votar em Ciro Gomes, mas decidi que Padre Kelmon é o candidato ideal para gerir e purificar o Brasil, órfão de um candidato sério e preparado desde que o Cabo Daciolo, o Cabo Véi, abriu mão de subir a rampa do Palácio do Planalto.

No debate de hoje, na TV Globo, Kelmon se destacou pela estabilidade emocional, pelo equilíbrio, pelo domínio sobre assuntos cruciais para o desenvolvimento do Brasil, etc, etc e etc. Em suma, um estadista de escol.

Era só uma brincadeira, pois eleição é coisa séria (será?), ainda que o brasileiro goste de brincar com tudo, inclusive com coisas sérias, inclusive com eleições.

Quem não se lembra da rinoceronte Cacareco (sim, Cacareco era uma fêmea), emprestada pelo prefeito do Distrito Federal e que se tornou a mais ilustre moradora do Zoológico de São Paulo, inaugurado pelo governador Jânio Quadros, em 1958?

Cacareco, primeiro da espécie nascido em cativeiro na América do Sul, tornou-se estrela de primeira grandeza no zoológico paulistano, a ponto de o governador dizer, no seu discurso, “que povo só não o recebia de braços abertos por motivos óbvios” e que “com o cartaz que está, Cacareco seria um forte candidato aos Campos Elíseos” (referindo-se à sede do governo estadual). Aproveitando a deixa de Jânio Quadros, o jornalista Itaboraí Martins, do jornal O Estado de S. Paulo, e alguns amigos e colegas do jornal e da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, lançaram, numa mesa de bar, a já famosa rinoceronte candidata a vereadora nas eleições que se avizinhavam (04 de outubro de 1959). Ao final do pleito, o animal teve quase cem mil votos, correspondendo a soma dos quinze primeiros colocados (https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/10/04/eleicao-da-rinoceronte-cacareco-para-a-camara-municipal-de-sp-completa-60-anos.ghtml).

Quase trinta anos depois, com o slogan “Tudo pela evolução, para prefeito, macaco Tião!”, a revista humorística Casseta Popular e o deputado federal Fernando Gabeira lançaram a campanha do mais famoso morador do Zoológico do Rio de Janeiro, para mostrar como eram difíceis as opções políticas. Durante a campanha, o slogan foi refeito: “Tião, Tião, o candidato do povão”. Contados os votos, Tião teve mais de 400 mil votos, resultado que o poria em terceiro lugar (https://odia.ig.com.br/colunas/coisas-do-rio/2019/08/5672602-quem-lembra-do-macaco-tiao.html).

Os meus três ou quatro leitores não devem esquecer que o voto era em cédulas de papel, logo o eleitor poderia escrever o nome do(s) candidato(s) de sua preferência. O voto informatizado, em urna eletrônica, dificultou mas não impediu a aparição de um ou outro Cacareco/Tião. Por aqui nós tivemos, candidato a prefeito de Natal, Miguel Mossoró e Geraldo Forte. Fora do nosso estado, Tiririca, atualmente deputado federal, é outro exemplo de voto de protesto; no último pleito presidencial, Cabo Daciolo ocupou a posição e no deste ano surgiu Padre Kelmon.

A cacarequice ou tiãozice do presumido sacerdote (há dúvidas sobre a posição que diz ocupar no seio da igreja ortodoxa) esteve à altura do debate presidencial de ontem. Ouso dizer, sem brincar, que ele não esteve muito abaixo de nenhum dos postulantes ao Planalto e está alguns degraus acima da atual senadora e candidata presidencial, pelo União Brasil, Soraya Thronicke.

O despreparo, a canalhice e a cafajestagem dominaram o convescote de ontem à noite e demonstraram que os candidatos estiveram reunidos para nos dizer como pretendem acabar, de vez, com o Brasil.

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