Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa
Sou, quem me lê e me ouve sabe, fã incondicional de Winston Churchill, um dos cinco maiores estadistas de todos os tempos. Os outros quatro são Alexandre Magno, Júlio César, Carlos Magno e Napoleão Bonaparte.
Os cinco não eram lá muito mansos, não tinham papas na língua e fizeram currículos que os indicariam, nos moles e frouxos dias atuais, a líderes sanguinários. Três deles – Alexandre, César e Napoleão – seriam facilmente apontados como tiranos. Um, César, como genocida.
O aristocrático Churchill, em célebre discurso proferido no Congresso dos Estados Unidos, em 19 de maio de 1943, afirmou: “Diversas formas de governo foram testadas e muitas outras serão ainda neste mundo de pecado e aflição. Ninguém pretende que a democracia seja perfeita e onisciente. É verdade que tem sido dito que a democracia é a pior forma de governo, exceto por todas as outras formas que já foram tentadas na história”.
Sou daqueles que não acreditam muito na democracia liberal. Reconheço que ela não é perfeita, tem um sem-número de problemas, mas de todas as formas de poder conhecidas na história, ela é a melhor criada pelo homem, por isso a ela me dobro.
Não sou daqueles que passaram a vida toda contestando os moldes da democracia liberal, querendo substituí-la por outra coisa a que também chamavam democracia e quando a vê ameaçada grita em sua defesa apenas e tão-somente para, vendo-a funcionando e em forma novamente, querer derrubá-la e entronar a democracia de seus sonhos, que nada mais é do que a tirania travestida de democracia.
A democracia permitiu a eleição de Donald Trump por duas vezes e a de Jair Bolsonaro por uma. Também garantiu, nos anos 1930, a ascensão de Adolf Hitler. Segue, a despeito disso, sendo democracia.
Os Estados Unidos elegem Presidentes da República há mais de duzentos anos. Alguns deles escroques reconhecidos, outros com pendor autoritário, e o regime democrático por lá segue incólume, as liberdades individuais intocadas, o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico firme.
Por isso, mesmo desconfiado, sou um defensor da democracia liberal e, portanto, das liberdades individuais, as quais permitem o pleno desenvolvimento humano. O Estado deveria se limitar às tarefas clássicas: saúde, educação, segurança, justiça, relações exteriores.
O falso progressismo é, para mim, um câncer. Não se sustenta e inviabiliza o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas. E ele, o falso progressismo, sempre dá o ar da graça, da forma mais mesquinha e medíocre, quando se vê ameaçado, seja por um democrata, seja por um déspota.
Os falsos progressistas não estão incomodados com a eleição de Trump porque Trump é uma ameaça à democracia liberal. Se estivessem incomodados com isso, estariam nas ágoras reclamando dos líderes da China, da Rússia, da Venezuela, da Nicarágua…, de todos os regimes despóticos. Não estão. Deblateram contra Trump porque Trump ameaça as pautas progressistas, algumas distantes toda a vida da democracia.
Não me iludo: Trump não tem generosidade alguma. Nem com inimigos, nem com amigos. E nunca escondeu isso. Disse, nas três campanhas que disputou, o que pretendia fazer. Num mandato fez parte do que prometeu e não fez mais porque, segundo ele, foi traído por assessores em quem confiava.
Foi alçado à Casa Branca novamente pelos meios democráticos (a democracia tem disso, garante a eleição de gente com a qual não concordamos) e diz clara e abertamente que irá fazer valer o predomínio das forças econômica, política e mesmo militar para atingir seus objetivos, não poupando nem mesmo amigos para atingi-los.
Trump é o presidente americano mais poderoso desde Ronald Reagan. Tem maioria no Congresso, na Suprema Corte, o apoio das big techs e da maioria do empresariado norte-americano, uma oposição frágil, com problema de identidade, sem um líder, e um ex-presidente que sai do poder de forma melancólica. Ainda assim, não é um César ou um Napoleão.
De qualquer forma, ponhamos as barbas de molho, pois teremos tempos tumultuados e tumultuosos.
O Brasil provavelmente não terá vida fácil, pois concorre com os Estados Unidos em energia e alimentos. E, de quebra, ainda tem a Argentina aqui do lado, nossa concorrente potencial, pronta a atender aos pedidos dos Estados Unidos.